Um lugar mágico
A Quinta das Lágrimas sempre me despertou curiosidade pois, as fotos que tinha visto desta quinta anteviam um espaço com características muito peculiares e com algo quase de mágico. A realidade não me desiludiu e a entrada para este espaço, com a casa principal como fundo é como entrar num autêntico oásis em plena cidade de Coimbra.
A primeira sensação que tive foi de que as proporções entre jardins e edificação são correctas como uma escala humana, o que torna muito agradável o passear por este espaço. Os jardins possuem diferentes pontos de interesse e são notórias as diferentes épocas de construção. A diversidade de espécies e de conceitos merecem que nos disciplinemos e criemos um itinerário de visita. Penso que a primeira coisa a fazer é começar por visitar a casa para nos apercebermos da sua relação com o exterior. A ligação é profunda e, em qualquer espaço da casa o jardim está bem patente mas, gostaria de destacar dois locais como a biblioteca com uma visão para o sector mais antigo e a zona de rés-do-chão com vista para um jardim interior recente com grande influência oriental.
De volta ao exterior pela porta principal, temos à nossa esquerda a zona da capela e logo a seguir um espaço de apartamentos que foram edificados no antigo lagar. Os jardins são de dimensão média e alguns semi-privados e adjacentes aos apartamentos. No espaço mais público é utilizado como decoração antigos artefactos ligados às actividades agrícolas. Uma passagem interior levamos a uma zona do jardim dominada por uma tenda para eventos. Neste espaço assisti à apanha da uva num caramanchão e nos diversos canteiros existentes existe uma profusão de aromáticas e de vegetais que mais tarde serão usadas nas refeições do hotel.
O nosso próximo “destino” é, talvez, o espaço mais profundo deste jardim onde árvores centenárias convivem com exuberantes plantações de bamboo, a atmosfera é sombria e a luz penetra com dificuldade. Andado alguns metros a paisagem vai-se transformando, o amplo relvado central ganha visibilidade e com ele a luz solar regressa para iluminar o caminho para a fonte dos amores que convive com um grande tanque povoado de nenúfares. O relvado domina a nossa visão, ao fundo temos as edificações do hotel e, por detrás, num plano mais longínquo a cidade de Coimbra. A monotonia do relvado é quebrada por um pequeno lago central e, à direita, um anfiteatro em pedra permite que o espaço seja polivalente ao nível da utilização. O nosso passeio está a terminar e o nosso próximo destino é a zona da piscina e restaurante. A ligação do jardim à arquitectura é perfeita com canteiros com formas simples e repletos de flores criam uma imagem pictórica muito interessante e atraem inúmeras espécies de insectos e de aves.
Sentado à mesa e na esplanada contemplo este espaço em total sintonia com uma refeição de excelência.
Como foi a recuperação do jardim
A abordagem ao jardim da quinta das Lágrimas exigiu um estudo cuidado das estruturas existentes nomeadamente as fontes e canais, tanques e lagos, e da informação histórica que confirmam o valor de um espaço sobre o qual está documentada a antiguidade da ligação ao convento de Sta. Clara. Trata-se também de refazer através de uma reconstrução uma área com todas as características de um jardim medieval que conhecemos através das iluminuras, das tapeçarias e da literatura da época. O elemento que dá autenticidade ao espaço é o canal chamado Cano dos amores que será restaurado e que há quase 7 séculos conduz água vinda da fonte dos amores.
Foram escolhidas 50 espécies de plantas que pertencem ao grupo de plantas que se utilizava na Idade Média e que surgem pintadas nos livros, descritas nas listas de plantas dos conventos, dos hortos de plantas medicinais e hortas. Restringimo-nos às plantas que existiam antes dos Descobrimentos e da introdução de plantas exóticas.
O lugar é também um santuário aos amores de Inês e Pedro. De facto esta é uma história de amor que se transformou num mito mas que é documentada historicamente ( Tristão e Isolda, Romeu e Julieta são só lendas) e localizada nesta Quinta, nestas fontes dos Amores e das Lágrimas.
A ideia que norteia a intervenção é recriar um ambiente de clausura, de bem estar e de grande simplicidade semelhante ao ambiente dos jardins medievais, com espaldares de rosas, pergolas de vinha, canteiros de plantas hortícolas e aromáticas e dentro deste espaço de contornos irregulares ( a geometria não é o forte da Idade Média) surge a fonte octogonal, simbolizando a fonte da vida típica de todas as representações do jardim medieval.
Optou-se por um faseamento que dá prioridade ao jardim do Cano dos Amores onde existia uma tenda para eventos a qual foi integralmente renovada e integrada no conceito do jardim através do uso de treliças de rosas que a envolvem . Uma parte importante da mata já foi limpa e apareceram muros que foram restaurados permitindo agora que o sol entre na encosta e permita um passeio por cima da fonte das lágrimas e um ponto de estadia donde se vê o grande lago, a quinta e Coimbra na outra margem do Rio
As espécies de plantas
Achillea ageratum; Achillea millefolium; Aconitum napellus; Allium schoenoprasum; Anagallis arvensis; Aquilegia vulgaris; Artemisia drancunculus; Arum italicum; Asparagus officinalis; Bellis perennis; Borago officinalis; Brassica oleracea; Calendula officinalis; Chamaemelum nobile; Chelidonium majus; Clematis vitalba; Convallaria majalis; Coriandrum sativum; Crocus sativus; Cucurbita maxima; Cymbopogon citratus; Cynara scolymus; Daucus carota; Digitalis purpurea; Echinops strigosus; Foeniculum vulgare; Fragaria vesca; Gentiana acaulis; Helycrisum italicum; Hydrangea macrophylla; Hypericum androsaemum; Iris germanica; Jasminum azoricum; Lactuca sativa; Laurus nobilis; Lavandula luisieri; Lavandula multifida; Lavandula stoechas; Lilium candidum; Lippia citriodora; Lonicera periclymenum; Melissa officinalis; Mentha pulegium; Mentha spicata; Myosotis arvensis; Myrtus communis; Narcissus jonquilla; Ocimum basilicum “Minimum”; Origanum vulgare; Papaver somniferum; Persicaria odorata; Petroselinum crispum; Pisum hortense; Primula vulgaris; Ranunculus arvensis; Rheum rhaponticum; Ribes rubrum; Rosa canina; Rubus idaeus; Rumex sp.; Salvia officinalis; Santolina chamaecyparissus; Santolina virens; Satureja montana; Solanum melongena; Sympthum officnale; Thymus vulgaris; Thymus x citriodorus; Valeriana officinalis; Verbena officinalis; Vicia faba; Viola odorata; Vitis vinifera.
Informações úteis
Hotel Quinta das Lágrimas: Rua António Augusto Gonçalves / P-3041-901 Coimbra- PortugalTel.: + 351 (239) 802 380 / Fax: + 351 (239) 441 695 / E-mail: comercial@quintadaslagrimas.pt
Internet: http://www.quintadaslagrimas.pt/
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