GR11 Caminho do Atlântico

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Da Azóia a Odrinhas, O Mar versus o Campo

Este percurso, integrado na Grande Rota do Atlântico GR11, desenvolve-se em dois cenários distintos.

O primeiro, entre Azóia e Magoito, tem o Atlântico por companhia. O segundo, entre Magoito e Odrinhas, o ambiente é mais campestre e agrícola.

Tudo começa na pequena povoação da Azóia, junto ao Cabo da Roca, no placard de informação sobre a GR11-E9. Sendo um percurso sinalizado existe uma pequena brochura editada pelo ICNB que ajuda a ter uma noção do percurso mas que, deverá ser acompanhada, na segunda parte do percurso, de uma carta militar à escala 1 / 25 000 para uma maior segurança do utilizador visto a sinalização não ser, em certos casos, muito efectiva.

Os percursos sinalizados têm a virtude de facilitar a vida quando caminhamos, temos apenas que estar atentos às marcas existentes e desta forma, concentrar a nossa atenção na magnífica paisagem.

Sensações

Esta GR11 é uma rota muito interessante devido aos inúmeros e diferenciados cenários que a envolvem. O majestoso Atlântico é confrontado com o interior que foi outrora agrícola mas que conserva os traços gerais que nos fazem transportar para outras épocas e outras vivências.

Como já tivemos oportunidade de referir, estas  crónicas não têm a pretensão de ser roteiros rigorosos mas sim, a transmissão de experiências e de situações que mais nos chamaram a atenção.

ULGUEIRA

A primeira povoação do nosso percurso é Ulgueira. Não se trata de um local monumental mas, a conservação das casas e das suas traças conferem-lhe um equilíbrio estético que é pouco comum em regiões que sofrem uma grande procura turística e uma pressão urbanística muito forte.

Já com a Ulgueira para trás o nosso percurso leva-nos para os campos amplos onde o Atlântico nos espera. O primeiro impacto é muito agradável devido à conjugação das cores e ao equilíbrio do relevo. O Farol do Cabo da Roca, à nossa esquerda, acompanha-nos na descida de aproximação à costa e à Praia da Adraga.

A Praia da Adraga é uma das mais interessantes de todo o nosso percurso. A sua dimensão é reduzida contudo, a sua beleza natural é de grande dimensão com autênticas esculturas naturais  de rochas.  Ao nível das infra-estruturas de apoio existe um restaurante / café e casas de banho.

PRAIA DA ADRAGA

Rumo à Praia Grande

Depois de retemperar forças começamos a subir rumo ao nosso próximo ponto de interesse, as pegadas dos dinossauros junto à Praia Grande. O terreno e a vegetação são totalmente diferentes pois agora caminhamos sobre areia rodeados de pinheiros. O declive é suave e a subida faz-se sem qualquer dificuldade.

Caminhamos novamente junto à costa com uma visão do Calhau do Corvo que fez jus ao seu nome pois eram inúmeros os corvos marinhos nele poisados quando o avistámos. Estamos a chegar a um dos pontos mais altos desta nossa caminhada, a jazida com pegadas de dinossauros da Praia do Rodízio (situada a Sul da Praia Grande). Infelizmente denota-se uma degradação do local e a escadaria de acesso à praia que acompanhava  as pegadas, está fechada à circulação pública por riscos de derrocadas! Segundo M. Ramalho (LNEG – LGM), “…As pegadas de dinossauros encontram-se em camadas de calcários do Aptiano inferior, no extremo S da praia (equivalente ao nível 11 de Rey, 1972 – “Marnes à Ostreidés”. São onze pistas constituídas por 51 pegadas às quais se adicionam quinze isoladas, sendo na grande maioria, tridáctilas.

Rumo à Praia Grande

Atribuem-se a dinossauros bípedes Terópodes e correspondem aos géneros Megalosaurus e Iguanodon (Dias & Madeira, 1983). As camadas de calcário e margas, calcário recifal e margas com ostras que afloram na zona sul da praia, encontram-se sub-verticais e permitem realização de um bom corte geológico, camada a camada. No seu extremo N, já junto do caminho marginal o contacto faz-se com níveis oligocénicos através de um pequeno cavalgamento destes sobre o Cretácico. As camadas são ricas em conteúdo fossilífero, como por exemplo: fragmentos de lamelibrânquios, de braquiópodes, de equinodermes, ostracodos e foraminíferos (Choffatella decipiens Schlumberger, Palorbitolina lenticularis (Blum) e outros), correspondendo a ambiente marinho interno”.

PRAIA GRANDE

Refeitos deste encontro com um passado distante iniciamos a nossa descida para a Praia Grande através ruas estreitas entre casario relativamente recente. A pressão da construção faz-se notar nesta zona…

PRAIA DAS MAÇÃS

Entramos numa fase do percurso que nos levará à povoação da Praia das Maçãs. Percurso que se desenvolve para Norte com o Atlântico sempre presente. Ao longo deste troço teremos acesso a informação através de um quadro informativo sobre a fauna e flora da GR11. O posto de observação serve também para descansar um pouco antes da descida para a Praia das Maçãs. O acesso é fácil mas, entretanto paramos junto a umas escavações sem qualquer indicação do que se trata. Só teremos de ter atenção quando chegarmos à Ribeira de Colares que dependendo do seu caudal pode ou não ser transposta. No caso do caudal nos impossibilitar a passagem em segurança teremos que caminhar mais para o interior e depois retomar o trajecto pela Praia das Maçãs.

A Praia das Maçãs possui um visual muito característico das zonas de veraneio onde a arquitectura tradicional é substituída por uma arquitectura sem “alma” e onde a informação publicitária domina a paisagem sem qualquer regra ou limite…

Rumo ás Azenhas do Mar

Em passo acelerado deixamos este local em direcção às Azenhas do Mar com a imagem das casas encavalitas junto à falésia, na nossa mente. Chegados à povoação a realidade da paisagem corresponde por inteiro à imagem na nossa memória…Estamos perante um local de eleição onde o equilíbrio do casario contrasta com um mar devastador, agressivo e de uma cor intensa. Encantados com a paisagem decidimos parar para comer algo num espaço ajardinado existente na encosta.

AZENHAS DO MAR

Retemperadas as forças e captadas as imagens da azenha retomámos a nossa caminhada rumo à Praia do Magoito. Sendo a paisagem semelhante, este trajecto mostra-nos diversas edificações com uma arquitectura tradicional mas com a particularidade de terem os telhados completamente brancos… Na Aguda, temos mais um quadro informativo que para além da fauna e flora, fornece informação sobre a arriba.

A Praia do Magoito já está à vista e este ponto do nosso percurso marca uma diferença profunda da paisagem dominante até esta altura da nossa caminhada. As falésias são substituídas por terrenos agrícolas e por uma paisagem mais edificada.

RUMO AO MAGOITO

A transição entre a Praia do Magoito e o interior é feita inicialmente em terreno de areia entre pinheiros. Conforme nos deslocamos mais para o interior a vegetação adensa e o percurso nem sempre é muito definido… A povoação do Magoito não é muito interessante e apenas nos serviu para o abastecimento de água fresca e de algo para comer.

São João das Lampas é o nosso próximo destino. A paisagem assume uma característica rural mas denotando-se uma falta de actividade já com décadas… Os caminhos são bons.

Igreja Matriz de S. João das Lampas

A igreja matriz domina S. João das Lampas cuja origem do nome ou, mais concretamente da palavra Lampas tem, para a Associação de Defesa do Património de Sintra duas explicações diferentes. “A primeira deriva do figo Lampo que se apanhava na noite de S. João e se levava de presente; as lampos eram, pois, uma variedade de figueiras. A outra explicação é que lampas quer dizer lâmpadas ou alampadas (de azeite, sebo e cera) que era costume acender na festa do Santo Percursor. S. João é o santo das luminárias por excelência a tal ponto que na Idade Média era chamado S. João das Lampas”. Apesar da incerteza da origem do nome uma coisa é certa, S. João das Lampas é uma povoação incaracterística dominada por unidade fabril. Com um pouco de dificuldade lá encontramos a informação que nos levará à Amoreira e posteriormente a Odrinhas, o nosso destino final.

Caminhamos por zonas arborizadas e com uma forte componente paisagista rural. O abandono dos campos é notório e a caminhada é feita com o nosso pensamento a divagar como terá sido este local em plena actividade? Já só pensávamos no nosso destino, o centro museológico de São Miguel de Odrinhas.

RUMO A ODRINHAS

ODRINHAS

Segundo a informação recolhida, “…O Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas assenta os seus mais profundos alicerces no Renascentismo, quando alguém – muito provavelmente Francisco d´Ollanda – decidiu reunir em torno da antiga Ermida de São Miguel um apreciável conjunto de monumentos epigráficos encontrados por entre as ruínas romanas ainda então visíveis no local.

Mais recentemente, em 1995, a Câmara Municipal de Sintra tentou uma experiência inovadora para o seu tempo: a construção, em plena zona rural, de um pequeno núcleo museológico que permitisse voltar a reunir, em Odrinhas, as antiguidades entretanto dispersas, além de outras mais recentemente detectadas.

O actual Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas herdou, do seu mais remoto antecessor, o espírito humanista e cosmopolita que foi apanágio do Renascimento. Do mais recente, colheu o vínculo privilegiado ao meio que o rodeia e á população rural do Termo de Sintra, região onde, de algum modo, se podem ainda hoje escutar os longínquos ecos do Passado”.

Sinalizações duvidosas

A GR11 entre Azóia e Odrinhas é genericamente bem sinalizada e não levanta grandes dúvidas ao utilizador. Contudo, deparámo-nos com algumas situações que poderão, eventualmente, levar ao engano no trajecto.

A primeira situação foi na Praia da Adraga. Quando caminhamos na estrada, no sentido da praia, devemos entrar na rota junto ao início da vedação em madeira (à nossa direita) e por um caminho largo de areia.

A segunda situação de duvidosa sinalização que encontrámos foi junto à Praia do Magoito. Passada a ponte junto à praia e ao caminhamos para Este, no sentido da povoação do Magoito,  a certa altura quando estamos junto à Ribeira da Mata deveremos ter atenção  à sinalização. O caminho que encontrámos dava sinais de ser pouco utilizado e cheio de silvas.

Em S. João das Lampas a sinalização não é muito evidente existindo, junto à igreja matriz uma placa em madeira com uma referência à GR11. Devemos tomar o sentido de Bolelas e já quando nos dirigimos para Odrinhas temos mais uma dificuldade com a sinalização do percurso. A certa altura atravessamos a Ribeira de Bolelas e deparamo-nos com um entroncamento sem qualquer indicação. Devemos optar pelo caminho da direita, ligeiramente a subir e com uns muros em ruínas pela nossa esquerda.

Flora  e Fauna

A vegetação é abundante e destacamos as seguintes espécies: Cravo Romano / Armeria pseudarmeria; Tojo-gatuno, tojo-da-charneca / Ulex densus; Carvalho-negral / Quercus pyrenaica; Raiz-divina / Armeria welwitschii; Chorão, figo da terra / Carpobrotus edulis; Azevinho, pica-folha / Iiex aquifolium; Carrasco, carrasqueiro / Quercus coccifera; Pinheiro-manso / Pinus pinea.

Árvores e arbustos de Portugal

http://arvoresdeportugal.free.fr/index.htm

As aves e mamíferos: Corvo-marinho-de-crista / Phalacrocorax aristotelis; Ganso-patola / Morus bassanus; Gaivota-de-pata-amarela / Larus cachinaus; Peneireiro-comum / Falco tinnunculus; Toirão / Putorius putorius; Leirão-comum / Eliomys quercinus.

Mamíferos em Portugal

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_mam%C3%ADferos_de_Portugal

Aves de Portugal

http://www.avesdeportugal.info/index.html

A ter em conta

Ao nível do equipamento deveremos ter em atenção a época do ano em que vamos fazer o passeio e adequar o vestuário para a ocasião.

Ao nível da alimentação deveremos levar água e alguns alimentos simples e energéticos. Durante grande parte do percurso existem diversos e bons restaurantes para aqueles que gostam de refeições mais “completas” bem como pequenos supermercados nas povoações.

Descarregue o passeio para o seu GPS, telemóvel ou partilhe: http://ridewithgps.com/routes/186951

INFORMAÇÕES ÚTEIS

Parque Natural de Sintra-Cascais

Tel. : (351) 21 924 72 00; Fax: (351) 21 924 72 27; mail: pnsc@icnb.pt

Câmara Municipal de Sintra

Tel.: 219 238 500; Fax: 219 238 657; e-Mail: geral@cm-sintra.pt

Divisão de Turismo da Câmara Municipal de Sintra

Tel.: 219 236 920 / 219 236 921; Fax: 219 236 939; E-mail: dtur@cm-sintra.pt

Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas

Tel.: 219 609 520; Fax: 219 609 529; e-mail: info@museudeodrinhas.com

Horário: 4ª Feira a Domingo, das 10h às 13h e das 14h às 18h

Número Nacional de Socorro

112

SOS Floresta

117

GNR de Colares

+351 21 929 00 27

Bombeiros Voluntários de Almoçageme

+351 21 928 81 71

Onde ficar:

Na zona costeira existem diversas pensões e casas de alojamento local.

– Parque de Campismo da Praia Grande

Av. Monteiro Frederico Freitas – Alto Rodízio  – Colares

2705-333 Colares

+351 21 9290581

Onde comer:

Restaurante na Praia da Adraga.

Na Praia das Maçãs existem diversos restaurantes para diferentes orçamentos.

Nas Azenhas do Mar temos restaurante junto às piscinas.

Bibliografia: “Atlas do Parque Natural de Sintra-Cascais” de Luis Baltazar e Carlos Martins.

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