Caminho de Santiago em Bicicleta – 3ª etapa

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3ª etapa. Puente la Reina/Logroño, 74.32 Kms

Quem diria que esta etapa foi sentida de forma bem mais penosa que a do dia anterior! Percorremos 74,32 Kms, o tempo no pedal foi 05:47:47, a uma velocidade média de 12,81 Kms H., a máxima atingida foi de 52,72 Kms H.

Texto e fotografia: António José Soares

Saímos de Puente la Reina pelas 08h30m., o nosso percurso foi quase sempre pelo caminho, com muitas paragens, tal a beleza do mesmo. Espanhóis, brasileiros, colombianos, franceses, neo-zelandeses, coreanos, suiços, alemães, portugueses (eu também conto), em cada ponto do caminho se encontram peregrinos de diferentes nacionalidades. Quando ainda tinhamos poucos kms percorridos, encontrámos a simpática rapariga checa (Gabriela), com quem tinhamos falado antes de atingir o Alto del Perdón.

Ao chegár a Estella, agora já em companhia de Vítor e Camilo, dois espanhóis de perto de Algeciras que começamos por encontrar em Pamplona e que connosco fizeram parte da etapa anterior, aconteceu-me uma primeira contrariedade, um furo, felizmente estes amigos deram uma ajuda tão preciosa que praticamente nada tive que fazer. Camilo então, tratou praticamente de tudo, embora secundado pelos outros companheiros. No meio do azar a veio a sorte, possivelmente ainda agora lá estaria a mudar a roda!

Fuente del vino, em Estella. Aqui se bebe sem pagar

Optámos pelo caminho

O percurso deste dia foi feito quase exclusivamente pelo Caminho, excepção feita a um troço de cerca de 20 Kms, antes de chegar a Logroño, o que aconteceu por volta das 17.30 H., nesta cidade, depois de encontrarmos o primeiro albergue lotado, rapidamente nos acercámos do albergue paroquial aqui um senhor simpático, alto e bonacheiro, com ar de espanhol meio pinguço, mostrou-nos o local onde guardar as bicicletas, neste albergue não cobravam nada pela dormida, apenas pediam algum voluntariado e em troca também ofereceram jantar e pequeno almoço.

A atmosfera reinante era propícia a gerar bom estado de alma, importante como bálsamo para o cansaço que se começava a acumular. A profusão de gente oriunda dos quatro cantos do mundo, que fazem o caminho por razões várias, gera um clima que propicia os contactos transnacionais entre peregrinos de várias idades, credos e profissões. As relações entre peregrinos são fáceis e acontecem frequentemente de forma amiga, é claro que se torna sempre mais fácil relacionamentos estabelecidos entre portugueses, espanhóis, italianos e franceses, naturalmente um pouco pela aproximação linguística (todas derivam do latim).

Depois de uma pequena oração de graças pelo jantar (afinal o espanhol bonacheirão era o pároco), fomos convidados a no final da mesma nos deslocarmos à Igreja, a fim de efectuarmos uma oração já mais solene. Quando entrávamos Vítor comentava comigo que se tratava de uma igreja muito bonita, ao que respondi: “si, és mui bonita”. Ouvi de imediato o agradecimento de uma jovem italiana (Isabela) que pensava estar eu a elogiá-la. Esclareci e disse que era a igreja.

Foi realmente um momento engraçado e que pôs em evidência a minha falta de jeito, e embora tivesse dito que efectivamente ela também o era, este facto não impedía a minha falta de sensibilidade.

Aquele momento de oração foi vivido de forma tranquila e mesmo para os menos crentes, o mesmo foi assumido e encarado com interesse.

Ainda faltava massajar as pernas para procurar ter uma noite bem passada, no meio de um verdadeiro estúdio em que os roncadores afinavam o seu canto fazendo questão de rivalizar uns com os outros, para desespero de quem tem o sono mais leve.

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