António José Soares é de Torres do Mondego e tinha o sonho de fazer o Caminho de Santiago em bicicleta.Em 2007 concretizou o seu sonho ao fazer o Caminho Francês.
A revista Passear irá publicar as suas crónicas que transmitem as sensações vividas ao longo das duas semanas a pedalar. Quem sabe se não encontra aqui uma motivação para efectuar o seu caminho.
Como tudo começou
A ideia de fazer o Caminho Francês de Santiago surgiu há uma boa meia dúzia de anos, contudo este ano o que antes era um sonho aconteceu mesmo.
Foi tudo muito rápido e começou num fim de semana de final de Agosto de 2007. Aquando duma visita a Santiago, principiei por pedir informações do caminho francês para percorrer em bicicleta, talvez lá para o próximo ano.
No entanto tudo se desenrolou muito rápido, depois de ter comprado um pequeno livro, dirigi-me à oficina de turismo onde encontrei praticamente todas as informações que precisava. Ali mesmo estabeleci contacto com uma peregrina “disse-me, cheia de alegria, ter feito o caminho a pé em 32 dias”.
Já antes na Praça Obradoiro tinha visto chegar vários peregrinos, todos com um ar bastante elucidativo de um perfeito estado de alma. Após ter estado na oficina de turismo, onde fui excelentemente informado, dirigi-me depois à “tienda” do peregrino, a fim de pedir a credencial e obter informações adicionais. Aí, ainda antes de entrar, falei com “una chica” que acabava de chegar. Disse-me ter demorado 10 dias desde a sua cidade, Burgos, não tendo sentido grande dificuldades. A moça até tinha um corpo para o franzino, no entanto, como se costuma dizer, nem tudo o que parece é.
Depois de ter a credencial, quando me preparava para sair, tive ainda oportunidade para falar com um belga, perguntei-lhe se tinha sido difícil e quantos dias tinha demorado a fazer o caminho. Afirmou ter partido de Dax, demorando 14 dias a chegar, disse ainda ter rolado quase sempre por estradas paralelas ao caminho. De repente comecei a fervilhar, já só fazia contas às férias que ainda tinha, Nada tinha ainda planeado, mas secretamente já sabia que iria levar a “Belmira” até França para aí iniciar a aventura. O meu estado era o de uma criança em vésperas de Natal. Depois de abandonar Santiago, em passeio pela Costa, até Vigo, já só via Bicicleta e imaginava o percurso, pensava igualmente no dia em que, passados já alguns anos sob o longínquo ano de 1993, poria novamente os pés em solo francês e tomaria “o meu café au lait acompanhado do indissociável e obrigatório croiassant avec de la conficture”. Amanhã prosseguirei a narrativa, dedicada aos amigos e familiares mais próximos. Irei também postar algumas fotografias belíssimas do “camino”.
Preparação da viagem
Determinado a fazer o Caminho, logo que cheguei a Coimbra comecei a pensar no que era necessário fazer para empreender a viagem. Primeiro que tudo tratar de saber da possibilidade de levar a “Belmira” de comboio, na CP informaram-me que teria que desmontar as duas rodas, para poder viajar de comboio até França, grande seca. Lembrei-me contudo que um colega de trabalho, no fim de um treino de futebol de 5, falava das suas aventuras no “longo curso”, esta conversa deu-me ensejo para indagar da possibilidade de poder arranjar uma boleia até Bayonne. É aqui que surge o Santos, um colega que por sorte fazia um serviço ocasional para França em data mesmo a calhar, a 10 de Setembro, primeiro problema ultrapassado. Depois foi equipar a bicicleta, alforges, suporte, afinações, espigão para o volante, selim, câmaras suplentes, pneu, etc., bem tudo junto toca de desembolsar perto de 350 euros. Foi importante o apoio da família, que viabilizou, com algum sacrifício é certo a minha viagem, foram também importantes alguns incentivos e conselhos de amigos, tenho que destacar os do Paulo Simões, muito úteis, porque me transmitiu alguma da sua experiência, penso que só mesmo o começo das aulas o impediu de me acompanhar.
Assim, às 18:03 horas de 10 de Setembro de 2007 montei na bicicleta em Torres do Mondego, andei os primeiros 9 km até Coimbra, o Santos já me esperava na Casa do Sal, na companhia de outro colega.
A viagem até França correu muito bem, ainda consegui dormir alguma coisa. Às 05:30 da manhã, hora francesa, chegámos a Bayonne. Aí me veria sozinho, ainda madrugada, quase noite. Nos arredores de Bayonne, ninguém para ver a minha saída do autocarro, depois de me despedir dos colegas toca a pedalar para o centro da cidade, como era bem cedo ainda dei umas voltas pelas ciclovias (existem muitas por toda a bonita cidade de Bayonne, tal como em Coimbra!!!), aconselho a sua visita, especialmente se for em Agosto, aquando das “Férias”, nome das festas, coloridas pelos trajes brancos com cintas, lenços e boinas vermelhas, e claro muito vinho e sobretudo muita alegria. É uma festa cheia de calor, animada pelas várias bandas espalhadas pela cidade. Depois de uma pequena volta de Bike, chego à Gare da SNCF, aí trato de comprar o bilhete para o pequeno comboio que me irá levar numa viagem curta, mas muito agradável até St.Jean Pied-de-Port, onde começarei a primeira etapa do Caminho, estava morto que abrisse uma Boulangerie, para papar um croiassant e beber um “café au lait”. Foi ali mesmo na Gare, onde entretanto já tinha feito conversa com dois casais franceses, uns na casa dos 50/60, outros nos 60/70, também de bicicleta, para fazer o caminho, mas por estrada.
Conheça as experiências de António José em http://coimbrasantiago.blogspot.com/