Caminho de Santiago em Bicicleta – 4ª etapa

0

4ª etapa. Logrõno/Belorado passando por Santo Domingo de la Calzada, 73.39 Kms

Aqui posso dizer que começou o início de uma amizade latina, onde espanhóis, portugueses e italianos, demonstraram espírito de entre ajuda, companheirismo e sobretudo foram amigos.

Texto e fotografia: António José Soares

Sem nos conhecermos, mas todos com o mesmo objectivo, fazer o Caminho de Santiago, independentemente das diversas motivações de cada um.

Partindo sós de Saint-Jean de Pied-de-Port, eu (António), Fulvio, mais tarde rebatizado para Va(lentino), e Sérgio. Somente Vítor e Camilo partiram juntos, criámos uma equipa unida e ao mesmo tempo diversa.

O espírito criado foi verdadeiramente fantástico, o factor idade praticamente não existia, embora seja de assinalar a amplitude que partia de Vítor, com os seus vinte anos passando pelos vinte e tal de Sérgio e Camilo, com um vazio nos trinta e depois os 45 de António e finalmente os 55 de Valentino.

Este dia foi rico em convivência, muita animação durante a etapa, que foi dura embora só tivessemos percorrido 73, 39 Kms., a uma velocidade média de 13,77 Kms Hora. A pedalar foram 5:19:41, não contando os tempos de paragens, sendo que a velocidade máxima conseguida foi de 47,12 Kms Hora.

Pausa em Santo Domingo de la Calzada

Em Santo Domingo de la Calzada parámos um pouco para visitar a zona histórica de uma cidade muito ligada às peregrinações a Santiago. A sua catedral románica-gótica, muito bonita, com uma riqueza incrível, encerra uma curiosidade que me atrevo a relatar.

Assim, quando entramos na catedral, do lado esquerdo, devidamente expostos dentro de uma enorme “gaiola”, encontram-se um galo e uma galinha brancos (vivos). Parece incrível, mas não pensem que se trata de uma capoeira dentro da igreja. O galo e a galinha brancos são substituídos após vinte e um dias, segundo a tradição. Eles evocam o milagre de Santo Domingo : No século XVI, um rapaz alemão viajava para Santiago com seus pais, quando ao pernoitar em Santo Domingo a moça filha do estalajadeiro, enamorou-se dele, contudo o rapaz não correspondeu e a moça perante a recusa decidiu vingar-se e acusou-o de roubo. No regresso de Santiago os seus pais encontraram-no pendurado na corda mas ainda vivo, sobre os ombros de Santo Domingo. Comunicaram o facto ao juiz que se encontrava a comer e disse que o jovem estava tão morto como os galos que tinha no prato. De imediato os mesmos saltaram e começaram a cacarejar. Em jeito de castigo os juizes passaram a usar uma corda ao pescoço, posteriormente substituída por uma cinta.

Regresso ao caminho

Voltando às peripécias do caminho, devo referir que os 20 Kms. até atingir Santo Domingo foram os mais desagradáveis. Isto porque eu e Fulvio decidimos ir pela estrada. Foi a pior decisão. Uma verdadeira tortura, embora tivessemos a companhia de outros ciclistas. Várias vezes passamos e fomos ultrapassados por dois alemães que depressa se tornaram familiares.

Igualmente também foi familiar a presença de 3 italianos, um senhor na casa dos sessenta e dois rapazes bem mais jovens, na casa dos vinte/trinta, que mais para a frente encontrámos e com quem conversámos algumas vezes.

Após o abastecimento de combustível em Santo Domingo, foi o caminho até Belorado, onde chegámos pelas 16.30 horas.

A moça do albergue foi muito simpática e prestável, o alojamento tinha óptimas condições, lavámos e secámos as roupas, relaxámos e conversámos muito. Aqui chegaram pouco depois de nós os italianos e os alemães que atrás mencionei.

Ainda travei conhecimento com um casal francês que chegou pouco depois, conversámos muito, foram momentos de convívio agradável.

O jantar foi económico e bem servido, antes da carne de vaca estufada foi servida “paella” que o Fulvio ansiava per manjare. Melhor que a comida só o vinho, não é Valentino, tu e Camilo pareciam duas esponjas. E se Vítor “manjava como una fonha” então Fulvio e Camilo… como beberam!

Finalmente a dormida, com Valentino e mais um ou dois peregrinos a roncar, a malta começou por rir perante a música reinante, tendo sido um verdadeiro tormento conseguir parar. Contudo havia que respeitar os outros peregrinos, por isso até me mordi, a fim de conter o riso, no entanto logo Sérgio começava, era quase impossível parar, até porque,tratando-se de uma paródia, dificilmente consigo resistir. Indiferente a isto tudo estava naturalmente Fulvio, à noite “roncava como um camião TIR” e pela manhã alinhava sempre no “passeio de motoreta”.

Foi um dia divertido, sem dúvida, com muita alegria, e uma vontade grande de aproveitar tudo o que o Caminho pode proporcionar: alegria, sã convivência, descoberta, descontração, liberdade, mas sublinho a amizade e o prazer puro e simples de fazer o caminho.

[mappress]
Partilhe

Acerca do Autor

Deixe Resposta