9ª etapa. Molinaseca/Samos, passando por Ponferrada e Cebreiro, 101.12 Kms.
À medida que nos aproximávamos de Santiago aumentavam as dificuldades. A etapa deste dia foi deveras difícil, rolámos sempre pelo caminho, somente apanhámos a estrada na subida ao alto do Cebreiro, fomos informados que alguns troços do caminho são difíceis para quem vai de bicicleta, pelo que o melhor seria mesmo subir pela estrada, paralela ao caminho.
Texto e Fotografia: António José Soares
Finalmente iríamos entrar na Galiza, a paisagem fazia lembrar a região pirenaica, a saída de Molinaseca deu-se cedo, Camilo emprestou-me umas meias calças que muito jeito deu, as manhãs já se apresentavam frias.
Rapidamente chegámos a Ponferrada, iríamos hoje abraçar talvez a jornada mais dura, mas tão bonita quanto difícil. Percorremos 101,12 Kms a uma velocidade média de 15,30 Kms H., rolámos em cima das bikes 06:36:26, atingi a velocidade máxima de 53, 85 Kms H., a subida do Cebreiro foi verdadeiramente estonteante, antes porém, rolámos muito bem com o caminho a serpentear o rio Valcarce, também paralelo à estrada, estávamos às portas da Galiza, a paisagem começava a ser amplamente dominada pelo verde. Seduzem-me particularmente os muitos frondosos e bonitos castanheiros que íamos deitando para trás. Subir, subir, até ao Alto do Cebreiro.
É claro que Vítor e Camilo descolaram na subida, eu e Fúlvio fomos sempre subindo, muitas das vezes com a bicicleta à mão, porque em boa verdade estávamos já bastante cansados, mais uma vez os andaluzes aguardaram-nos no Alto do Cebreiro, aqui parámos na aldeia com as casinhas em pedra, fomos convidados a beber umas cervejas pelos amigos alemães, que no cimo, com ar bastante cansado, e ao mesmo tempo de júbilo pelo feito conseguido, exibiam cada um uma caneca de cerveja, assim ali houvesse maior.
Hoje não tivemos a felicidade de fazer a última parte da etapa sempre a descer, isso aconteceu só até um determinado ponto, porque os últimos 10 12 Kms até chegar ao Mosteiro beneditino de Samos foram penosos, contudo apesar do cansaço conseguimos ainda pedalar para apanhar um lugar no albergue, para o merecido descanso e para um repasto tranquilo. Aqui chegados fomos muito bem recebidos pelos voluntários que prestavam serviço, tenho pena de não ter efectuado uma visita guiada pelo mosteiro. Mas o cansaço aliado ao desejo de apanhar depressa o duche obstou a este desejo.
Samos é uma povoação pacata, com o único defeito de ser atravessada por uma estrada que lhe corta alguma tranquilidade. Contudo a zona envolvente ao mosteiro é magnífica, como poderão comprovar pelas fotos expostas.
Depois de arranjadinhos, vagueámos pelo povoado, comemos uns tapas e apressámo-nos a ir jantar. Chegados ao restaurante optámos pela carne grelhada, também não havia alternativa.
Quando nos aprontávamos para o repasto, os nossos oito olhos fixaram uma bela rapariga alemã, Francesca de seu nome, sentou-se mesmo a meu lado. As alemãs até não convivem muito bem com a elegância, esta é contudo uma excepção, a rapariga entrou e sobre ela saltaram olhares matreiros e babados, contudo a todos ela respondeu com naturalidade e indiferença.
Porém rapidamente voltou a ser o centro das atenções, como era vegetariana, à falta de alternativas, e depois de uma caminhada longa, teve de contentar-se com salada de alface, tomate, pão, vinho e batatas fritas. Quase que desesperou, contudo acabou por encontrar em nós boa companhia, como os espanhóis só falavam mesmo espanhol, eu e Fulvio lá fomos ajudando na tradução de alguma coisa, mas estava difícil, a moça não pescava muito de francês e como eu em inglês ainda pescava menos, a ajuda que prestámos foi mais difícil de executar.
A noite caiu e, já no albergue, chegou a hora de recolher, ás 22.00 fecharam-se as portas e apagaram-se as luzes. Este albergue mais parecia a sociedade das nações, sul-americanos, orientais, europeus, uma enorme diversidade de pessoas dos quatro cantos do mundo. Como costumava dizer Fulvio: “é o camino”.
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