Mértola foi o local de base do nosso passeio em bicicleta por terras do Alentejo onde, num dos circuitos, visitámos a Mina de São Domingos e o porto fluvial Pomarão.
Texto e fotografia: Vasco de Melo Gonçalves
Pedalar por terras do Alentejo é, para mim, uma actividade que me dá grande prazer devido ao sossego da região, às paisagens inconfundíveis e ao saber receber das populações.
Depois de uns dias em Monsaraz decidmos mudar a nossa “base” para Mértola e, a partir daí, efectuar diversos percursos pelas redondezas.
A Mina de São Domingos e o Pomarão são lugares de visita obrigatória e, por isso, elaborámos um trajecto que englobasse essas duas povoações. Com cerca de 52 km de extensão, o nosso trajecto começou e acabou em Mértola e utilizámos estradas nacionais com pouco movimento, a antiga linha férrea desactivada e estradões de terra batida.
Mas o dia anterior à nossa jornada foi aproveitado para conhecer melhor a povoação de Mértola. O diálogo permanente entre o casario branco e o rio criam um cenário único e marcante da importância que este povoado já teve nesta região alentejana.
A mistura / fusão de culturas está bem patente ao deabularmos pelas ruas estreitas e sinuosas desta vila que mais parece um museu vivo.
Vamos pedalar
De manhã bem cedo fizemo-nos à estrada para visitarmos dois símbolos gloriosos de um passado recente, a Mina de São Domingos e porto fluvial do Pomarão.
Face às características das nossas bicicletas escolhemos estradas com pouco movimento ou estradões de terra batida para efectuarmos os nossos trajetos. Esta jornada não foi excepção!
Apesar de estamos em Junho, o céu encoberto permitiu-nos pedalar sem grandes temperaturas até mina e as suas grandes lagoas. O passado está sempre presente nesta povoação quer através da arquitectura como dos núcleos museológicos e, é interessante observar a sensação com que ficamos que parece não existir futuro para esta população! Sensação esta transmitida por uma população envelhecida e pela falta de actividade comercial.
Visitado o povoado pedalamos para mina e, também, aqui as sensações são contraditórias. A degradação da paisagem e o abandono entram em conflito com a nossa imaginação que tenta vislumbrar como terá sido o local no seu apogeu. As ruínas, o ambiente, o isolamento fazem-me lembrar os filmes de Andrei Tarkovsky… Apesar da degradação e das águas contaminadas, o local encerra em si uma beleza fotográfica que me entusiasmou e que me fez parar, por diversas vezes, captar imagens quer de grandes planos como de pormenores do ninho de cegonhas.
Deixamos a Mina de São Domingos pela antiga linha-férrea, agora desmontada, seguindo o rasto do minério até ao porto fluvial do Pomarão. É um troço muito agradável onde pedalamos em terra batida em plena comunhão com a natureza. A descida para o Pomarão faz-se por uma estrada alcatroada com uma inclinação acentuada onde atingimos os 60 km/h.
A povoação do Pomarão parece estar parada no tempo sendo quebrado este estado pelos inúmeros visitantes estrangeiros que chegam nos seus barcos. São estes marinheiros que ainda dão alguma vida ao local e ajudam na subsistência do pequeno comércio local… Na altura falámos com um casal de alemães que acabava de atracar ao cais e que estavam maravilhados com a paisagem e o sossego da região. Há já dois meses que permaneciam no rio Guadiana!
Após visita à povoação e algum descanso montámos nas nossas bicicletas e iniciámos o regresso a Mértola. Grande parte do trajecto, é feito através de terra batida.
Conclusões
O percurso é acessível a qualquer um e desenvolve-se por zonas de grande beleza natural. O isolamento é uma constante, o mergulho na história uma realidade e a nossa imaginação é testada ao tentarmos recriar a vida destes locais. Um passeio que recomendo e para ser feito em qualquer época do ano!
Sobre os locais a visitar
O Roteiro das Minas é um site muito completo no que diz respeito a informação sobre locais de exploração e as suas histórias.
Segunda a informação recolhida, a Mina de São Domingos é “… um complexo mineiro instalado no século XIX para a exploração de uma mina de pirite cuprífera cujo depósito havia sido explorado já em época romana e pré romana. Os principais elementos extraídos durante a exploração moderna, entre 1854 e 1966, foram o cobre e o enxofre. Inclui as zonas urbanas da Mina de S. Domingos, Moitinha, Achada do Gamo e Pomarão, a zona de extracção na Mina de S. Domingos, zonas industrias na Mina de S. Domingos, Moitinha e Achada do Gamo, o caminho de ferro Mina-Pomarão com as estações e as obras de arte (túneis e pontes), o porto fluvial do Pomarão e a Palanqueira (margem direita do Guadiana), duas albufeiras de água doce na Mina de S. Domingos, projectadas para permitir a metalurgia pela via húmida e um conjunto de canais e albufeiras de água ácida para permitir a gestão dos efluentes da metalurgia. Depois do encerramento da mina o equipamento foi desmantelado e vendido, restando hoje a paisagem marcada pela actividade mineira e pela drenagem ácida.
O porto fluvial do Pomarão, inaugurado em 1859, foi construído nos primeiros anos após a redescoberta da mina em 1854, tal como a aldeia portuária e o caminho-de-ferro. Durante o período de laboração, o porto, situado cerca de 40 km a montante da embocadura do Guadiana na confluência deste com o rio Chança, permitiu a acostagem anual de centenas de navios trazendo materiais e equipamentos para a mina e levando cargas de minério. Ao Pomarão chegava a linha de caminho de ferro, com cerca de 17 km de extensão, que ligava o porto à zona de extracção de minério na Mina de S. Domingos e aos restantes locais do complexo industrial: Achada do Gamo, Moitinha e Oficinas Ferroviárias.
*Bibliografia:
Câmara Municipal de Mértola / www.cm-mertola.pt
Roteiro das Minas /www.roteirodeminas.pt/
Na mina de São Domingos, o Centro de Documentação da Fundação Serrão Martins está instalado na Rua de Santa Isabel, nº 30, Mina de São Domingos e fornece apoio a investigação de índole científica, escolar ou artística através do acervo documental de que dispõe e do conhecimento disponível entre os elementos que compõem o pessoal da Fundação.
A Casa do Mineiro é uma exposição permanente que ilustra a vivência das famílias mineiras e o primeiro pólo permanente do Museu da Mina de São Domingos. A Casa do Mineiro mostra a realidade física do espaço de vivência de uma família mineira. Os objectos, as memórias, os símbolos e as carências estão nela representados. Acima de tudo, pretende provocar a imaginação e a sensibilidade do visitante para que ele possa procurar conceber a vivência diária duma família dentro de um espaço de 16 m².
O Centro de Documentação, tal como a Casa do Mineiro, funciona num conjunto de quatro antigos alojamentos de operários da mina e mantém-se aberto ao público nos dias úteis entre as 9h00 e as 12h30 e entre as 14h00 e as 17h30.
Em Mértola ficámos a dormir na Residencial Beira Rio (www.beirario.pt) que tem uma boa relação preço / qualidade e lugar para guardar as bicicletas.
Ao nível da alimentação temos, na povoação, diversos restaurantes e mini-mercados.
Consultar: www.merturis.pt/pt/inicio/index.php
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