A Câmara Municipal de Santiago do Cacém e o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja apresentam a 25 de Julho, pelas 18H30, no Auditório Municipal de Santiago do Cacém, o livro “No Caminho sob as Estrelas – Santiago e a Peregrinação a Compostela”.
Este livro, vindo a lume sob a direção de José António Falcão, é o catálogo da exposição sob aquele título que teve lugar, em 2007, na igreja matriz de Santiago do Cacém. Trata-se de uma obra de fundo, com colaboração de 26 investigadores portugueses e espanhóis, que oferece uma síntese renovadora – incluindo muitas pistas inéditas – acerca da história da peregrinação a Compostela.
Reconhecido como um dos itinerários patrimoniais mais populares do mundo, o Caminho de Santiago principiou no século IX, após o descobrimento do túmulo do apóstolo Santiago Maior. Adquiriu estatuto internacional no século X, com a presença de europeus como o bispo Godescalco de Puy, que peregrinou em 950, alcançando um auge nos séculos XI-XIII, período em que se formou o Caminho Francês. Hoje, os seus diferentes itinerários são percorridos por milhões de peregrinos dos cinco continentes. Existem rotas com partida oficial de Portugal, França, Itália, Reino Unido, Irlanda, Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, Alemanha e outros países do Norte da Europa.
Nesta rede internacional confluem realidades muito diferenciadas, o que coloca desafios às autoridades nacionais, regionais e locais e à própria sociedade civil. As vias jacobeias ganharam extraordinário vigor não só nos itinerários “clássicos”, mas também em muitos outros que estavam adormecidos, como os do Sul de Portugal. Embora a essência da tradição perdure, há novas circunstâncias a ponderar em campos tão diversos como o desenvolvimento do mundo rural, a regeneração dos centros históricos ou a salvaguarda da natureza. A influência da passagem dos peregrinos, aliás, traduz um peso crescente do turismo religioso, cultural e ambiental na economia.
O Caminho de Santiago tem vindo a assumir grande protagonismo um pouco por todo o Alentejo, graças à intervenção de várias entidades que corresponderam ao esforço iniciado, há algumas décadas, pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja. Atualmente cruzam já a região, todos os anos, alguns milhares de peregrinos, na sua maioria oriundos do Algarve e da Andaluzia, o que é o resultado de um trabalho sistemático de investigação, marcação e divulgação das rotas praticáveis. Os itinerários meridionais estão a ganhar adeptos pela beleza, tranquilidade e segurança, oferecendo alternativas significativas face a outros segmentos massificados.
Santiago do Cacém, com a sua igreja gótica dedicada ao apóstolo, ocupa lugar de destaque neste processo. Um eixo fundamental de peregrinação a Compostela atravessa a costa vicentina e o sudoeste alentejano, passando por Aljezur, Odemira, Sines, Grândola e Alcácer. Quanto à velha terra de Cacém, cujo litoral foi colonizada após a Reconquista por gentes da Galiza (como a toponímia recorda), era uma “pequena Compostela” onde os peregrinos vinham venerar importantes relíquias do Santo Lenho, oferecidas pela princesa bizantina D. Vataça Lascaris.
Hoje existem motivações diferentes, mas o regresso dos peregrinos impôs-se. As preocupações dos responsáveis pelo património diocesano de Beja orientam-se agora no sentido de garantir o seu acolhimento, tarefa que conta com o interesse de autarquias, Misericórdias, paróquias, corporações de bombeiros e associações. Segundo reconhece José António Falcão, “há um ingente trabalho a realizar neste domínio, mas as populações estão recetivas a colaborar no apoio a quem peregrina; além disso, existe abertura, por parte de instituições com experiência nesta área, como a Ordem Soberana e Militar de Malta, para auxiliar em tarefas de formação e organização do voluntariado”.
Membro da Real Academia Galega de Belas-Artes, José António Falcão dirige o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja desde 1984. Especialista de renome europeu no Caminho e no culto de Santiago, tem dirigido projetos de cooperação sobre a peregrinação compostelana, entre eles Loci Iacobi e Ultreia, que envolvem Portugal, Espanha, França e Irlanda. É frequentemente chamado a colaborar com as autoridades galegas, civis e eclesiásticas, na valorização do Caminho de Santiago. A República Francesa distinguiu-o, em 2010, com uma condecoração raras vezes concedida a estrangeiros, a Médaille de le Jeunesse et des Sports, pelo seu trabalho, como investigador, ao serviço das peregrinações.