A Mata Nacional do Buçaco, um dos ex-libris da região Centro em termos de visitação e turismo, não escapou à intempérie do fim de semana passado, cujos efeitos foram nefastos, tanto ao nível do património natural, como do património construído. A avaliação dos estragos pela Fundação Mata do Buçaco encontra-se em curso e prosseguirá ao longo dos próximos dias, dada a sua dimensão.
Nesta fase, em que o reconhecimento abrange menos de dez hectares do total de 105 hectares de área da Mata Nacional do Buçaco, os danos apurados são já considerados da maior gravidade: entre muitos outros igualmente centenários, o cedro-do-Bussac, mais antigo do país, cedro de São José (de 1644 ou mesmo anterior), apresenta agora apenas uma das suas ramadas; as restantes, tombadas sobre a Ermida de São José, destruíram por completo este importante elemento do património religioso da Mata.
Também destruídas, incluindo as suas peças em terra cota, estão pelo menos duas das capelas dos Passos da Via Sacra construída pelos Carmelitas, assim como o Pretório e Varanda de Pilatos, sob as quais tombaram cedros centenários.
Com menos relevância histórica, são igualmente notórios os estragos na cobertura e telhado das antigas Garagens do Palace Hotel, edifício que atualmente constituía o ponto de referência para seminários e atividades de divulgação e que se perspetivava recuperar para funções de Centro de Interpretação.
Após um fim de semana de verdadeira calamidade, as equipas da Fundação Mata do Buçaco encontram-se a trabalhar a 100 por cento no sentido de, desde já, permitir o restabelecimento das principais vias de acesso e infraestruturas de apoio. Sem água, luz e comunicações até ao final da manhã de hoje, a dificuldade de contactos não impediu, desde já, a colaboração da Câmara Municipal da Mealhada, Bombeiros Voluntários da Mealhada, Pampilhosa e Penacova, que têm vindo a disponibilizar meios humanos e materiais para auxílio na tarefa prioritária que constitui a desobstrução de caminhos e trilhos.
Sem prejuízo de uma avaliação mais cuidada, que terá de ser efetuada nos próximos dias com equipas especializadas, a Fundação Mata do Buçaco considera fundamental a atenção e apoio das mais diversas entidades, apelando ainda à solidariedade de empresas e população que estejam disponíveis para colaborar na recuperação de uma património que é único e é visitado por cerca de 200 mil visitantes por ano, estes que têm tem possibilitado a manutenção e melhoria do local, dentro da atual conjuntura e constrangimentos.
Neste mesmo contexto, e sobretudo no que diz respeito ao património construído, para o qual foi desenvolvido todo um projeto de recuperação que aguardava verbas há vários meses, se antes do temporal as necessidades eram já críticas, ao nível da manutenção e pequena recuperação, passaram agora a uma urgência absoluta de resgate e conservação.
Recorde-se que a Mata Nacional integra no seu espaço uma Via Sacra com configuração única a nível mundial, construída pelos Carmelitas há mais de quatro séculos. A par com património mais recente como o Palace Hotel, jardins, Vale dos Fetos e uma coleção dendrológica com mais de 150 árvores centenárias provenientes das mais diversas regiões do globo, é também aqui que subsiste uma mancha de um habitat único na Europa, o adernal, para a conservação do qual a União Europeia aprovou em 2010 um projeto demonstrativo de cerca de 3 milhões de euros, cerca de 2/3 do financiamento comunitário atribuído a Portugal naquele ano.
As intervenções que desde 2010 se têm promovido na conservação do património natural da Mata há muito careciam da correspondente intervenção, que vinha sendo sucessivamente adiada por indisponibilidade de meios, ao nível do património construído. Agora, e por via desta intempérie – cujos resultados são comparáveis ou mesmo superiores aos do temporal que há algumas décadas assolou a Mata, arrasando com milhares de árvores – a Fundação reforça que a atenção para a recuperação do património construído tem claramente de ser reforçada, no sentido de minimizar os estragos.
Apesar dos meios exíguos, a Fundação espera a partir de quarta-feira reabrir portas à visita de público, no sentido de assegurar tanto quanto antes a entrada de visitantes que constituem, desde a sua criação, a principal fonte de receita para todos os trabalhos que têm vindo a ser executados. Na sequência dos alertas e contactos estabelecidos com as mais diversas instituições espera-se igualmente, a breve prazo, começar a contar com a colaboração e apoio para as necessidades extra que agora se colocaram.