Ponte de Lima é vila mais antiga de Portugal e um local de visita obrigatório para todos os que gostam de caminhar num contacto estreito com a Natureza.
Texto e fotografia: Vasco de Melo Gonçalves
Ainda a recuperar de uma queda de bicicleta que me deixou inativo por 2 meses visitei Ponte de Lima para efetuar uma reportagem sobre o seu famoso Festival Internacional de Jardins. Nada melhor para recuperar a forma do que começar a fazer pequenas caminhadas e, por isso, escolhi a Ecovia do Rio com uma extensão de 3,48 km (cerca de 7 km ida e volta) e que liga Ponte de Lima (quase sempre junto ao rio) ao belíssimo solar de Bertiandos.
Visto a distância não ser muita e como a curiosidade de conhecer o novo Museu do Brinquedo Português, situado no edifício contíguo ao do Albergue de Peregrinos, era grande decidi fazer uma visita ao espaço antes de iniciar a caminhada. O museu é muito interessante (ver caixa no final do artigo), bem organizado e funciona como uma viagem ao passado. Tive a oportunidade de conversar com o colecionador Carlos Anjos, uma pessoa muito interessante e a quem se deve a recolha deste magnifico espólio.
Escolhi o fim do dia para fazer a caminhada pois o calor de Verão em Ponte de Lima não é de subestimar. A Ecovia está sinalizada, é muito utilizada pela população local e percorrida de bicicleta ou mesmo a correr.
O percurso não tem qualquer dificuldade pois é essencialmente plano e com pouca extensão. O que achei interessante neste trajeto foi o de se desenvolver ao longo do rio Minho, ser muito rico no ponto de vista da flora e de no seu trajeto podermos observar algumas das atividades económicas da região.
Solar de Bertiandos
O solar dos Bertiandos é uma das mais conhecidas casas senhoriais do Norte do país. A sua arquitetura, simultaneamente quinhentista e barroca, reflete, de forma direta, a história dos seus proprietários.
Em 1566, Inês Pinto, viúva de D. Lopo Pereira, mandou construir a torre, segundo os modelos arquitetónicos então em voga, que privilegiavam a denominada “casa-torre”. Várias características, entre as quais as gárgulas em forma de canhão, corroboram esta cronologia (AZEVEDO, 1969, p. 25). A mesma Inês Pinto instituiu dois vínculos a favor dos seus dois filhos, o que originou a divisão da propriedade, pois o relacionamento entre ambos revelou-se pouco cordial, dando origem a uma separação efetiva dos terrenos e, posteriormente, das casas de habitação. De facto, quando, no início do século XVIII, os herdeiros da secção Poente resolveram edificar um solar junto à torre e, pouco tempo depois, os do vínculo Nascente decidiram fazer o mesmo, criaram dois solares barrocos, independentes, mas unidos pela torre, que se manteve ao centro das duas edificações. A família voltou a unir-se, por casamento, apenas em 1792.
Apesar das diferenças arquitetónicas e temporais entre os três conjuntos que compõem o solar de Bertiandos, a fachada principal não deixa de apresentar alguma harmonia e simetria, ganhando especial relevância a escadaria central, cujo patamar aberto em leque denota uma influência francesa, também verificável no Paço dos Duques, de Guimarães, e noutras construções minhotas (AZEVEDO, 1969, p. 118). Na realidade, a escadaria, a par das diferenças de planos dos corpos, e do próprio tratamento do alçado, revelam um dinamismo próprio do período barroco, muito embora seja percetível uma grande sobriedade e depuração, mais próximas do gosto seiscentista. Tal como se pode observar noutros exemplos do Minho, ou da própria região de Ponte de Lima, também no solar de Bertiandos se verifica um forte ecletismo, que esteve na base de boa parte da arquitetura barroca portuguesa, civil ou não.
Como já referimos, a torre quinhentista foi conservada, facto que testemunha a persistência do gosto pela “casa-torre” medieval. O corpo poente, divide-se em dois pisos, o primeiro dos quais é aberto, nos panos laterais, por um arco de volta perfeita flanqueado por janelas, e dois arcos em asa de cesto no corpo central. Sobrepõe-se-lhe uma varanda alpendrada com colunas, nos panos laterais, sendo o centro fechado, mas onde se encontram duas janelas de sacada a flanquear o brasão de armas. Sobre as pilastras que dividem o alçado, erguem-se pináculos e, nos intervalos, merlões semelhantes às da torre quinhentista.
No corpo Nascente, mais avançado, duas torres enquadram o corpo central, retomando o modelo da “casa-torre”, mas numa derivação que conheceu grande fortuna no século XVIII. As torres são abertas por vãos, nos três andares, e coroadas por urnas. No piso térreo do pano central abrem-se janelas e uma porta, a que corresponde, no andar nobre, uma varanda alpendrada, com colunata, de influência seiscentista.
A entrada é feita pelo lado, através da escadaria já referida, e que dá acesso à andar nobre, onde se encontra a porta, encimada por frontão curvo. Os arcos, sob a escada, são de tradição antiquizante. No alçado posterior, e oblíqua ao corpo Poente, ergue-se a capela, com azulejos setecentistas, provenientes, em parte, da igreja do antigo convento do vale de Pereiras, em Arcozelo (Inventário Artístico da Região do Norte, III, p. 23).
Pela leitura deste complexo solar, percebemos como o gosto pela arquitetura medieval se conservou até ao século XVIII, integrando os elementos quinhentistas originais e desenvolvendo outros modelos, mas comungando, todos, da mesma fonte. Por outro lado, observam-se aqui tipologias chãs, seiscentistas, numa continuidade arquitetónica bastante eclética, característica que se aplica, de forma genérica, à arquitetura barroca portuguesa.
(Rosário Carvalho / IGESPAR)
No rés-do-chão a viagem no comboio de zinco leva-nos a conhecer a história de alguns dos mais importantes fabricantes nacionais de brinquedos, passando para o confronto entre o brinquedo português e o estrangeiro numa lógica de entendimento de fabrico; como se copiaram e se imitavam moldes estrangeiros. Não termine o rés-do-chão sem olhar atentamente para a resenha de quase duas centenas de fabricantes portugueses que convidam a subida ao primeiro piso.
A narrativa da exposição fica completa no piso superior onde estão expostas muitas das peças da coleção, seguindo uma ordem cronológica, década a década, enquadradas com as alterações formais e técnicas e associadas às transformações sociopolíticas do mundo, cujo impacto foi sentido ao nível nacional. As rocas e as flautas de folha de flandres, os baldinhos de praia em madeira com motivos coloridos, as bonecas de pasta de papel, os canhões de folha, passando pelas camionetas, barcos, comboios, triciclos, aos carros a pedais, percorrendo o mundo dos plásticos, apogeu do brinquedo português, até aos Estrunfes em pvc, tudo se fizeram em Portugal. Os contextos são vários e ajudam-nos a perceber o caminho do brinquedo português ao longo dos tempos.
Contactos Gerais
Museu do Brinquedo Português
Casa do Arnado. Largo da Alegria
990-154 Arcozelo – Ponte de Lima
Horário
Terça a Domingo
Das 10h às 12h30
Das 14h às 18H
Telefone
258 240 210
Correio Eletrónico
geral@museubrinquedoportugues.com
Informações úteis
Onde comer / As nossas sugestões
Restaurante Brasão
Rua Formosa
4990 Ponte de Lima
Telefone: 258 941 890
Restaurante Confrade
Mercado Municipal – Loja 1
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Onde dormir
Quinta de Pentieiros
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Tel. 258 751 321
Solares de Portugal
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Torre da Cadeia Velha
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