Complexo arqueológico com cerca de 5.500 anos próximo de Reguengos de Monsaraz.
O povoado dos Perdigões, ocupado entre os anos 4000 e 3000 a.C., pode ser visitado diariamente durante a semana aberta que está a decorrer até ao dia 8 de agosto, promovida pela Era Arqueologia com o apoio do Município de Reguengos de Monsaraz e da Herdade do Esporão. Para além da visita às escavações que estão a decorrer neste complexo arqueológico situado a cerca de um quilómetro de Reguengos de Monsaraz, os interessados poderão também conhecer o Museu dos Perdigões.
Na sexta-feira (07.8) realizam-se dois ateliês sobre “A vida na Pré-história” no Núcleo Histórico da Herdade do Esporão. Às 10h, no ateliê “Moldando a argila”, poderão ser experimentadas as técnicas utilizadas na Pré-história para a produção de recipientes cerâmicos, saber para que serviam e como eram utilizados. “Adornos Pré-históricos” é o tema do ateliê que decorre pelas 16h e que vai ensinar a todos os interessados como se produzem diversos adornos feitos com conchas, osso ou placas de xisto. Os participantes podem levar as peças que produzirem.
A partir das 19h será servido um Jantar Neolítico no Núcleo Histórico da Herdade do Esporão, uma experiência única que pretende reproduzir a cozinha pré-histórica a partir dos dados provenientes de escavações arqueológicas. A ementa integra Carne com marisco em estrutura de cuvete (carne cortada em pedaços misturada com mexilhões, ameijoas, berbigão e lambujinha, cozinhada em estrutura de cuvete forrada a seixos de rio previamente aquecidos e coberta por pele de animal e folhas), Coelho na panela (coelho temperado com ervas, cozinhado com cogumelos e acompanhado com lentilhas cozidas em panela de barro neolítica), Coelho com mel e ervas (coelho na grelha de madeira sobre o fogo e barrado consecutivamente com mel e ervas até estar pronto), Peixe no barro (truta salmonada temperada com ervas aromáticas, enrolada em folhas largas e cozinhada sobre casca de árvore coberta com argila), Carne no espeto (naco de carne de vários quilos espetado em paus e cozinhado diretamente no fogo durante várias horas) e como acompanhamentos haverá frutos silvestres, frutos secos e infusões.
No sábado, dia 8 de agosto, decorre o Dia Aberto nos Perdigões. Os participantes vão visitar o complexo arqueológico às 9h30 e uma hora mais tarde a exposição na Torre do Esporão, onde podem ser apreciadas as peças encontradas nas escavações.
Ao meio-dia haverá uma palestra sobre “Religião, animismo ou totemismo: aspetos das produções iconográficas dos Perdigões”, seguindo-se às 12h40 a visita às caves do Esporão. Da parte da tarde, pelas 16h, haverá demonstrações de talhe de pedra, pintura rupestre, trabalho em osso e produção de fogo.
O povoado dos Perdigões é um grande complexo de recintos delimitados por grandes fossos (estruturas escavadas na rocha), com necrópoles (cemitérios) e um cromeleque de menires associado (recintos cerimoniais circulares compostos por grandes blocos de pedra colocado ao alto), que teve início no final do Neolítico (há cerca de 5.500 anos) e durou até ao início da Idade do Bronze (há cerca de 4000 anos), representando 1.500 anos de história.
O sítio terá tido um papel muito importante para as comunidades que habitavam aquela área na Pré-história e seria, provavelmente, um local utilizado para a prática de cerimónias rituais relacionadas com o culto dos mortos e dos antepassados. São os vestígios dessas práticas que têm vindo a ser postas a descoberto pelo Núcleo de Investigação Arqueológica da ERA Arqueologia, que desenvolve há 18 anos campanhas de escavação no local.
Várias estruturas negativas tipo fosso estão a ser intervencionadas e datadas, mas um dos aspetos mais significativos é a presença de contextos funerários de cremações humanas datados de há cerca de 4500 anos. Práticas funerárias consideradas pouco comuns na época e que levantam interessantes questões sobre as visões do mundo e do ser humano que estariam em transformação.
Associadas a estes contextos de cremações humanas tem vindo a ser registado um notável conjunto de estatuetas antropomórficas em marfim, de grande naturalismo e beleza estética que, conhecidas noutros contextos do sul peninsular aparecem pela primeira vez em território nacional. O seu significado é assunto de debate entre os especialistas, podendo representar divindades, pessoas ou estatutos sociais concretos, grupos de identidade ou parentesco.