Este ano a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) escolheu o britango (Neophron percnopterus) para Ave do Ano 2016 e pretende desmistificar alguns mitos e preconceitos existentes sobre os abutres.
O também conhecido por abutre-do-egito, é o mais pequeno dos abutres ibéricos e enfrenta um grave declínio a nível mundial. Em Portugal, já desapareceu do sul do país, sendo raro no centro. Atualmente é uma das espécies-alvo do projecto Life Rupis, a decorrer nas áreas protegidas do Douro Internacional e Vale do Rio Águeda e dos Arribes del Duero.
Ao ser o protagonista da campanha deste ano, pretendemos que o britango, passe a ser mais conhecido e acarinhado pelo público e constitua um ilustre representante das restantes aves necrófagas.
Infelizmente, apesar da sua importância para o ecossistema, os abutres são associados à morte e maus prenúncios, tornando-o num dos heróis mais mal-amados no mundo animal. A SPEA pretende com esta campanha contribuir para alterar atitudes e dar a conhecer esta espécie de abutre tão importante para o equilíbrio ambiental. Eles são autênticas “aves limpa lixo”, uma vez que se alimentam de carcaças de animais mortos, muitos deles doentes, controlando assim, a proliferação de pragas e doenças, como a febre bubónica, a tuberculose, o botulismo e a brucelose.
Nos últimos 30 anos, a sua população diminuiu 30% em Portugal e por isso está em perigo de extinção. Esta diminuição deveu-se a diversos fatores associados à qualidade do habitat, perturbação e perseguição.
Esta pequena ave de rapina de plumagem essencialmente branca e preta, face amarela e cauda longa, pode ser vista em Portugal a partir de finais de fevereiro, permanecendo nas zonas de nidificação de março a setembro. Durante o outono migra para sul, passando o inverno na África sub-saariana. Prefere zonas acidentadas, normalmente em vales fluviais e montanhas, nidificando em buracos e plataformas rochosas.
O britango alimen ta-se de carcaças de outras aves e mamíferos, bem como de fruta e vegetais já em estado de decomposição. Por vezes, podem caçar animais debilitados.
Uma das curiosidades mais interessantes da espécie, que a torna numa das aves mais “inteligentes”, é a sua capacidade de usar pedras para partir ovos de avestruz para se alimentar, quando está em África.
Em Portugal, o Douro Internacional é um dos locais onde é mais fácil observá-lo, mas ocasionalmente ele surge noutros pontos do país. No Douro de Portugal e Espanha, encontram-se uma das mais importantes populações da Península Ibérica, com 116 casais.
Segundo Domingos Leitão, coordenador do Projecto LI FE Rupis, “o britango é a escolha mais óbvia para este ano, uma vez que iniciámos um grande projecto de Conservação no Douro Internacional, em que ele é uma das espécies-alvo. Até à data nunca tivemos uma espécie necrófaga como Ave do Ano, por isso achamos que será não só uma excelente oportunidade para dá-la a conhecer, como também para explicar o serviço fundamental que os abutres prestam na limpeza dos ecossistemas naturais.”
A campanha da Ave do Ano envolverá ações de divulgação, nomeadamente presença em eventos e feiras, irá disponibilizar wallpapers com calendário e irá estar em sintonia com as ações do projeto Life Rupis. Fonte: SPEA