Um total de 280 peças entre trajes ricamente decorados, perucas, toucados, modelos de maquilhagem, marionetas, gravuras, pinturas e instrumentos musicais, bem como fotografias e vídeos, podem ser vistas, a partir de 24 de Novembro, na nova exposição permanente do Museu do Oriente dedicada à Ópera Chinesa.
Tratam-se de objectos pertencentes à colecção Kwok On que, ocupando todo o piso 2 do museu, oferecem uma visão abrangente deste singular género performativo, em toda a sua diversidade e exuberância.
Considerada um dos tesouros culturais da China, a ópera tradicional surgiu em finais do século XI, agregando elementos de formas artísticas mais antigas como a música, a mímica, a dança e as artes marciais, entre outras, com manipulação de adereços como armas e leques.
Utilizando cenários muito básicos, a principal característica da ópera chinesa é a sua oposição ao realismo. A voz nunca é natural e, os movimentos estilizados e simbólicos, exprimem os sentimentos das personagens de acordo com um rigoroso imperativo estético. Tal como as representações de ópera eram muitas vezes antecedidas de bailados ou danças propiciatórias, também a exposição apresenta vestes, máscaras e outros acessórios usados nestes rituais que visavam garantir a protecção dos deuses para os actores e público.
É todo este universo que se mostra em “A Ópera Chinesa”, pelas histórias, objectos e personagens que a compõem, através de dois núcleos – Personagens e Repertório – bem como uma secção dedicada à ópera durante a Revolução Cultural.
A exposição é inteiramente formada por obras da colecção Kwok On – dando a conhecer mais um núcleo significativo do total de mais de 13.000 peças que a compõem – e representativa do trabalho empreendido pela equipa do Museu do Oriente, com vista à salvaguarda de um acervo complexo e frágil através do seu registo, conservação e restauro.
Para assinalar a inauguração desta exposição, o Museu do Oriente pode ser visitado gratuitamente de 25 a 27 de Novembro, com um programa de actividades que exploram os conceitos e objectos que formam o espólio de “A Ópera Chinesa”.
Envolvendo o visitante na experiência do espectáculo encontra-se, na entrada da exposição, a reconstituição de um cenário de ópera, um vídeo de uma actuação, instrumentos musicais das óperas de Pequim e Cantão e a recriação do camarim da aclamada estrela operática Mei Lan-Fang (1894-1961). A partir daqui, o visitante é convidado a percorrer dois núcleos – Personagens e Repertórios.
Trajes, maquilhagem e acessórios como perucas, toucados e sapatos, são essenciais para identificar os tipos de Personagens presentes na ópera. Da excelência dos actores – que têm obrigatoriamente de dominar uma série de disciplinas artísticas – depende o sucesso da produção e o prestígio da companhia. As tipologias, suas características e elementos diferenciadores estão ilustrados no núcleo das Personagens.
O vasto repertório da ópera chinesa inclui comédias de costumes, histórias de amor, peças históricas e mitos fundadores da China. No núcleo dedicado ao Repertório exploram-se quatro das suas mais célebres histórias: A História dos Três Reinos, A Viagem ao Ocidente, A Lenda da Serpete Branca e O Pavilhão da Ala Oeste. Através delas é possível perceber os vários papéis da ópera na cultura e sociedade chinesas: a crítica de costumes, a exultação das virtudes guerreiras e morais, o temor aos deuses, a transmissão da sabedoria dos antepassados, entre outras. Aqui se destacam ainda o nuoxi e o dixi, teatros religiosos de exorcismo, realizados em ocasiões solenes.
Enquadrando esta arte na história recente, a exposição conta ainda com uma secção dedicada à ópera durante a Revolução Cultural e a tentativa de instrumentalização pelo regime. O teatro torna-se num instrumento social que tem por missão um papel educativo. Foram toleradas apenas oito óperas revolucionárias, criadas sob a égide de Jiang Qing, a mulher de Mao. Com a morte de Mao em 1976, os antigos temas da ópera tradicional reapareceriam pouco a pouco, sob a influência de Deng Xiaoping, grande admirador do teatro clássico.
Criada em 1971 por Jacques Pimpaneau – a partir da doação que lhe fora feita pelo autodidata Kwok On -, a colecção Kwok On foi incorporada no acervo da Fundação Oriente em 1999. É composta por objectos relacionados com as artes performativas e festividades tradicionais da China, Índia e Japão. Representadas estão ainda as artes populares e práticas culturais do Sri Lanka, Tailândia, Camboja, Malásia, Indonésia, Vietname, Tibete, Birmânia, Nepal e Coreia. Com o objectivo de promover o contínuo enriquecimento da colecção, todos os anos, a Fundação Oriente realiza missões de estudo e aquisição de peças na Ásia.
Inauguração da exposição permanente “A Ópera Chinesa”
24 de Novembro | 18h30 |Museu do Oriente |Gratuito
Curadoria: Sylvie Pimpaneau e Sofia Campos Lopes
Design de exposição: Pedro Gonçalves
Programa de actividades “A Ópera Chinesa”
25 a 27 de Novembro (sexta-feira a domingo)
Entrada gratuita no Museu do Oriente
Oficinas e visitas: gratuito (por ordem de chegada, limitado ao respectivo número máximo de participantes)
Conferência: gratuito (limitado à capacidade da sala)
Espectáculo: pago
25 de Novembro
19.00 | Visita guiada à exposição “A Ópera Chinesa” pelas curadoras Sylvie Pimpaneau e Sofia Campos Lopes
21.30 | Espectáculo pela Companhia de Ópera de Sichuan (Preço: € 12)
26 de Novembro
15.00 | Oficina de recortes de papel (para crianças dos 6 aos 12 anos)
16.00 | Conferência “A ópera chinesa: divas, demónios e discos”, com a participação de Luzia Rocha, etnomusicóloga e investigadora; Dong Fei, actor da ópera de Pequim, especializado no papel feminino dan, e Sylvie Pimpaneau, co-curadora da exposição e da colecção Kwok On.
21.30 | Espectáculo pela Companhia de Ópera de Sichuan (Preço: € 12)
27 de Novembro
14.30 | “Personagens da ópera chinesa”: workshop de pintura facial (com o actor da ópera de Pequim, Dong Fei)
16.00 | Visita orientada “A ópera chinesa: um tesouro nacional”
16.00 | Oficina de pintura facial com o actor da ópera de Pequim Dong Fei (para crianças dos 6 aos 12 anos)