Na última semana foram detetados mais 11 animais silvestres vítimas de envenenamento na ZPE de Castro Verde, no Baixo Alentejo, e que incluem espécies tão ameaçadas da nossa fauna como a águia imperial-ibérica ou o milhafre-real.
O flagelo do uso ilegal de venenos continua a atingir muitas regiões rurais de Portugal, ameaçando a conservação da natureza mas também a saúde pública das comunidades locais com o risco de envenenamento.
Neste recente caso, que continua em curso, o primeiro animal detetado, um milhafre-real encontrado ainda com vida pela Liga para a Protecção da Natureza, apresentava sintomas de envenenamento agudo, que incluía vómitos, espasmos musculares e outros sintomas de grande sofrimento. O animal foi encaminhado para o centro de recuperação de animais silvestres (RIAS/ALDEIA em Olhão), tendo sobrevivido e onde ainda se encontra em recuperação.
A deteção deste animal despoletou imediatamente o patrulhamento da região pela equipa cinotécnica de venenos da GNR que viria a detetar, uma semana depois, 1 raposa morta na mesma área e com fortes indícios de morte pela mesma causa. Nesse mesmo dia foram ainda detetados os cadáveres de mais 5 milhafres-reais e 1 águia-imperial-ibérica, ambas espécies ameaçadas em Portugal, também com fortes indícios de envenenamento. A situação continuou, com a deteção no dia seguinte de mais 3 cadáveres de milhafres-reais, perfazendo até esta data um total de 11 animais envenenados associado a esta ocorrência e que tudo parece indicar ter uma origem comum.
As equipas do SEPNA da GNR têm vindo a recolher todos os cadáveres encontrados, assim como outras evidências no local que foram encaminhadas para análises forenses e que possibilitarão em breve a confirmação da causa de morte, a identificação da substância utilizada e o autor deste crime.
Este novo episódio de envenenamento massivo, o maior identificado até agora na Zona de Proteção Especial de Castro Verde, não é um caso isolado, existindo um demasiado longo historial de eventos de envenenamento identificados nos últimos anos.
Em 2016, este é já o quarto caso de morte de águia-imperial-ibérica registado no Baixo Alentejo cujos indícios são compatíveis com morte por envenenamento, pondo em evidência o risco real que esta ameaça representa para a conservação desta e de outras espécies com os mesmos hábitos de se alimentarem de animais mortos (necrófagos). No caso da águia-imperial-ibérica, em que as ameaças não-naturais podem pôr em risco toda a população nacional, atualmente constituída apenas por 15 casais reprodutores, esta é uma ameaça séria e é por isso um dos focos de atuação do LIFE Imperial. Com este projeto já foi implementada uma medida pioneira em Portugal que criou e tem há um ano em funcionamento 7 Equipas Cinotécnicas da GNR (binómios Homem/Cão) para a deteção de veneno.
O uso ilegal de veneno é uma prática muito lesiva para a natureza mas que pode também afetar os seres humanos e os animais domésticos de uma forma bastante gravosa. Existe um elevado risco para a saúde pública, quer por introdução na cadeia alimentar humana através do consumo de animais contaminados (por exemplo, coelhos, lebres ou predizes) ou através do contacto direto por manipulação de iscos ou contacto com fluidos de animais envenenados.
A LPN está empenhada no combate a este problema, consciente de que a sua solução exige a conciliação de esforços das entidades com elevada responsabilidade neste tema, como são a GNR, o ICNF, o Ministério Público e os Tribunais, para além das Organizações Não Governamentais de Ambiente. Neste sentido, apelamos a uma intervenção do Ministério do Ambiente para empreender, com urgência, esforços num programa estruturado e partilhado de combate a esta grave ameaça para a conservação da natureza.
Esta convergência de esforços, abrangendo toda a sucessão de procedimentos, desde a deteção à condenação (incluindo as diferentes etapas da investigação), é absolutamente imprescindível para uma atuação mais incisiva de todas as entidades envolvidas no combate a situações de atos ilegais e que adquire particular relevância quando se trata de espécies com elevado estatuto de conservação e de proteção. Fonte: LPN