Festival Explorer 3.0 levou Nuno Santos, Luís Paixão Martins, Bento Rodrigues, Pedro Varela, Carlos Santos e Jorge Brandão a Belmonte, para um interessante debate sobre o impacto dos new media no desenvolvimento das regiões menos povoadas.
Podem os meios de comunicação atuais ajudar a colocar o Interior esquecido no mapa? A resposta é positiva, desde que se consiga atrair criadores e indústrias criativas para lá viver. Esta foi uma das conclusões da iniciativa “New Media – Uma Opção para o Desenvolvimento do Interior de Portugal?”, que no sábado, dia 25, encheu o auditório do Museu Judaico, em Belmonte.
O evento, integrado no Festival Explorer 3.0, que desde outubro tem dado visibilidade às Aldeias Históricas de Portugal, levou até ao berço de Pedro Álvares Cabral (apenas o “Pedro” para os locais) especialistas em comunicação e não só, num debate moderado pelo jornalista Nuno Santos, um dos rostos mais conhecidos e experientes do meio televisivo nacional. O antigo diretor de programas e informação da RTP e SIC convidou para o debate figuras de destaque, como o jornalista Bento Rodrigues, rosto do Primeiro Jornal da SIC; Luís Paixão Martins, fundador da LPM Comunicação e pioneiro na área da consultoria em comunicação; Pedro Varela, realizador e argumentista multipremiado e membro do Clube de Criativos de Portugal; e Carlos Santos, criador de jogos e investigador da Universidade de Ciências Aplicadas de Breda, na Holanda. Jorge Brandão, dirigente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, esteve também presente em representação da instituição.
A conversa foi animada e muito interessante de seguir, como era de esperar face à qualidade do painel. Nuno Santos lançou o mote, em tom de desafio: “O que é que andamos todos a fazer do nosso país?”. Os participantes foram unânimes – ou quase – em considerar que há mais coisas a
acontecer no Interior de Portugal do que as pessoas nas grandes cidades possam pensar. “Continua a retratar-se pouco o Interior nos media, embora já não seja apenas um adorno. Há coisas muito interessantes a acontecer no Interior, a que não damos a devida atenção”, reconheceu Bento Rodrigues. Isto porque, no entender do pivô da SIC, “ainda há dois países em Portugal”. “As aldeias nunca estiveram tão perto do Litoral, devido às vias de comunicação, mas a distância a nível social ainda é grande. Dá a ideia de que tudo é perto, mas as assimetrias permanecem e muitos sítios estão até pior do que há 30 anos, com menos serviços”, acrescentou.
Se para Bento Rodrigues ainda há dois Portugais, para Luís Paixão Martins há… três: Litoral, Interior e a raia fronteiriça. “A raia é uma zona abandonada. Abandonámos completamente uma parte do país! Algumas aldeias que D. Dinis povoou, nós despovoámos!”, denunciou. Com uma agravante. “Nem tudo está nas nossas mãos corrigir. Se tenho de andar 60 quilómetros para ir a um banco, se tenho de pôr gasolina em Espanha, é difícil fixar pessoas. No Litoral é tudo mais fácil”, sublinhou.
Jorge Brandão reconheceu as dificuldades de se viver na região, dando o exemplo dos projetos candidatos ao Portugal 2020, que escasseiam na Beira Interior, em comparação com a Beira Litoral. “É fundamental trazer inovação, criatividade para estes territórios”, apontou.
Inovação e criatividade. Será essa a solução para todos os males do Interior? As opiniões dividiram-se. Pedro Varela avançou que tem de se encontrar formas de provocar experiências nas regiões mais afastadas, de forma a atrair gente. “Vamos criar vontade de estar aqui. Vamos criar conteúdos nas aldeias, abrir as portas das casas, arregaçar as mangas e criar condições para trazer para aqui criativos”, disse, adiantando ideias que foram muito aplaudidas pela plateia: “As Aldeias Históricas são 12. Porque não criar uma série passada aqui? Ou criar aldeias temáticas… uma aldeia tecnológica, uma aldeia da escrita, com residência privilegiada para argumentistas, uma aldeia da fotografia, com ateliês, etc.”
Carlos Santos subscreveu o desafio, ilustrando com a sua experiência. “Estamos a caminhar para uma economia de conteúdos e de experiências. Com a Internet, chegamos a todo o lado. Tenho colegas que vivem e trabalham num barco, porque não aqui? Mas o Interior tem de ser criativo e encontrar formas de atrair pessoas: atrair turistas, atrair gente para morar cá, atrair jovens. E a qualidade de vida é um argumento a favor”.
Até porque, como sublinhou Bento Rodrigues, os new media e a Internet de banda larga dão às pessoas a possibilidade de pegarem numa ideia, divulgarem-na com eficácia e agir em rede. “É um poder imenso”, disse.
Embora concordando na generalidade, Luís Paixão Martins refreou um pouco os ânimos, frisando que “o que os media do século XXI nos ensinam é que todos podemos publicar, mas é preciso escala para ser divulgado”. “Pode haver várias narrativas isoladas, que não têm visibilidade. É necessário juntá-las numa narrativa comum”, defendeu, antes de se referir à dificuldade do Interior Centro em captar turistas estrangeiros: “80 por cento dos turistas internacionais chegam ao seu destino de avião. Como o Centro não tem aeroporto, torna-se mais difícil”.
A finalizar, Nuno Santos resumiu na perfeição o tom geral da conversa: “Hoje qualquer coisa se pode fazer em qualquer sítio. E essa é uma possibilidade que o Interior pode aproveitar”.