Uma equipa internacional de conservacionistas festejou em agosto mais um marco importante para uma das aves mais ameaçadas do mundo, a calhandra-do-raso. A razão dos festejos: o voo de um juvenil na ilha de Santa Luzia, em Cabo Verde. Esta pequena ave, que terá apenas um ou dois meses de idade, é sinal de que a espécie poderá deixar de estar confinada apenas ao ilhéu que lhe dá o nome, graças ao trabalho da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), em colaboração com a Biosfera 1 e a Direção Nacional do Ambiente de Cabo Verde.
A calhandra-do-raso é uma das aves mais ameaçadas do mundo, que apenas subsistia no pequeno ilhéu Raso, em Cabo Verde, com uma população de cerca de 1000 indivíduos. No passado mês de abril, a SPEA, em conjunto com a ONG Cabo Verdiana Biosfera 1 e com a Direção Nacional do Ambiente de Cabo Verde, translocou mais de 30 aves para uma ilha próxima, Santa Luzia. A translocação decorreu com sucesso e após vários meses de seguimento e monitorização das aves translocadas, no passado mês de agosto foi observado o primeiro juvenil nascido na Reserva de Santa Luzia.
Durante os últimos meses, as calhandras-do-raso translocadas para a Reserva Natural de Santa Luzia foram seguidas pelos técnicos do projeto “Desertas – Gestão Sustentável da Reserva Marinha de Santa Luzia”. com o fim de avaliar a ação da translocação e conhecer as suas novas áreas de distribuição, adaptação ao novo local e possíveis problemas que pudessem estar a afetar as aves.
Após as primeiras chuvas deste ano em Santa Luzia, nos passados meses de junho e julho, os técnicos do projeto observaram os característicos voos de acasalamento que estas aves realizam no início da sua reprodução.
No mês de agosto foi finalmente observado o primeiro juvenil nascido na ilha. O juvenil foi observado a voar junto com os progenitores e a ser alimentado por um dos pais. Para além da confirmação deste primeiro juvenil de calhandra a nascer fora do Ilhéu raso, outros dois casais de calhandra foram também observados em voos de acasalamento.
“Este é um claro sinal de sucesso da translocação e um importante marco na conservação desta espécie,” diz Pedro Geraldes, Técnico Principal de Conservação Marinha da SPEA, e um dos coordenadores do projeto “Desertas – Gestão Sustentável da Reserva Marinha de Santa Luzia”.
O nascimento de novas aves ajudará a aumentar a resiliência da população a longos períodos de seca, que têm vindo a aumentar com as mudanças climáticas globais, e contribui para dar mais uma oportunidade a esta espécie globalmente ameaçada. Esta prova viva de que as calhandras-do-raso já estão a reproduzir-se na sua nova casa, confirma que a ilha de Santa Luzia apresenta um habitat adequado para sobrevivência da espécie e consolida a esperança de que a longo-prazo, venha a estabelecer-se na ilha uma segunda população de calhandra-do-raso.