Um dos ninhos artificiais instalados no Douro Internacional em janeiro deste ano já tem ocupantes: um casal de abutres-pretos. Os ninhos foram instalados no âmbito do projeto Life Rupis, uma vez que o incêndio que devastou a região de Lagoaça em 2017 destruiu o ninho do casal já existente bem como muitas das árvores altas com boas condições para estas aves fazerem o ninho. O casal de abutres-pretos que se instalou agora num destes ninhos artificiais duplica o número de pares reprodutores no Parque Natural do Douro Internacional, reforçando as probabilidades de instalação no nordeste de Portugal de uma nova colónia desta espécie globalmente ameaçada.
“O facto de este ninho ter sido ocupado tão rapidamente mostra a importância de providenciar locais seguros onde estas aves ameaçadas possam fazer o ninho, sobretudo na sequência de eventos devastadores como o incêndio de 2017”, diz Joaquim Teodósio, coordenador do Departamento de Conservação Terrestre da SPEA e do projeto Life Rupis.
Os ninhos artificiais são plataformas elevadas instaladas no topo da copa de árvores selecionadas onde os abutres-pretos podem fazer o ninho e manter as crias em segurança. No âmbito do projeto Life Rupis, este trabalho especializado foi realizado pela empresa Oriolus com apoio dos Vigilantes de Natureza e técnicos do ICNF, tendo sido construídas quatro destas plataformas em locais estratégicos no Parque Natural do Douro Internacional. Pouco tempo depois, o novo casal instalou-se numa delas.
Estes novos habitantes das Arribas do Douro juntam-se ao outro casal de abutres-pretos da região, que vem sendo acompanhado, desde que se fixou na área há 7 anos, pelas equipas dos dois parques abrangidos pelo Life Rupis: o Parque Natural do Douro Internacional (ICNF) e o Parque Natural Arribes del Duero (Junta de Castilla y León). Quando esse primeiro casal fez do Douro a sua morada em 2012, surpreendeu os biólogos ao instalar-se a cerca de 100km das colónias mais próximas, localizadas em Espanha. As maiores aves que percorrem os céus portugueses, os abutres-pretos vivem normalmente em colónias com dezenas de indivíduos. Por vezes, casais recém-formados afastam-se de uma colónia, começando um novo núcleo – foi o que sucedeu em Barrancos, por exemplo. Mas normalmente estes novos núcleos formam-se a 10 ou 20km da colónia de origem – não a 100km!
A esperança da equipa do Life Rupis é que ambos os casais se reproduzam com sucesso, e que este verão se juntem assim mais duas crias àquela que teve sucesso o ano passado, depois de os pais terem perdido a cria de 2017 no incêndio. A longo prazo, a equipa tem esperança que esta nova geração, quando atingir a maturidade, venha também a fixar-se na região.E que a ela se juntem aves de outras origens que por vezes dispersam até ao Douro, para que aos poucos se instale uma colónia de abutres-pretos no nordeste de Portugal. Para esta espécie ameaçada, uma nova população em Portugal seria uma excelente notícia, e um contributo significativo para a recuperação da espécie na Europa.