Continuamos a nossa viagem evocativa do V Centenário da Viagem da Circum-Navegação, em “12 Meses 12 Peças” e “12 Meses 12 Livros”, com duas marionetas javanesas e uma seleção de textos sobre a Peregrinação, dirigida Rodrigues Lapa.
Em destaque estão duas marionetas javanesas oferecidas, ao Museu de Lamego, pelo Comandante Humberto Leitão, militar lamecense, que exerceu diversos cargos no Oriente. As marionetas javanesas, utilizadas no teatro de sombras, Wayang KulitI, personificam uma ligação entre a representação, a história, a literatura e a religião. De inspiração indiana, as marionetas foram propagadas através dos senhores locais, retratam a origem da Ilha de Java e dos fundadores da linhagem Pandawa, Parikesite, neto do único sobrevivente batalha de Bharatayudda. Todavia, esta arte sofreu, na Indonésia, várias influências, a partir do séc. XII, com a islamização e as rotas comerciais, bem como alterações durante o domínio holandês.
Estas alterações provocaram mudanças a nível da iconografia, das personagens, das suas representações e da sua mensagem.
As marionetas javanesas, do espólio do museu, são de execução primorosa e cuidada, representam figuras masculinas, suportadas por varas, esculpidas em pele de animal, ricamente ornamentadas, de rostos pintados, com braços articulados, de cabeça inclinada e pés afastados, que lhe confere um caráter combativo. Simbolizam, também, o confronto entre heróis e vilões, a luta entre o bem e o mal.
No livro do mês sugerimos uma antologia de textos da obra, Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, incluída na coleção Textos Literários, coordenada por Manuel Rodrigues Lapa e editada em 1946.
Nesta obra publicação dirigida pelo antigo professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, afastado por divergências com o Estado Novo, transparece uma preocupação pedagógica a nível das notas, bem como do enquadramento sobre a vida e obra de Mendes Pinto. O livro encontra-se estruturado em dezassete capítulos, com títulos atribuídos por Rodrigues Lapa, onde são apresentados os excertos selecionados dos textos de Mendes Pinto, que seguem a primeira edição, de 1614.
A Peregrinação apresenta-nos a vida de Fernão Mendes Pinto, desde que saiu da casa de seu pai, em Montemor-o-Velho, as aventuras dos 21 anos que esteve no Extremo Oriente, onde foi “…treze vezes cativo e dezassete vendido…”, e o seu regresso a Portugal, em 1558.
A publicação deste mês surge como uma das obras portuguesas mais conhecidas no estrangeiro. Contando, já no séc. XVII, com traduções em diversas línguas europeias. O interesse por um território desconhecido, para a maioria dos europeus, contribuiu para o seu sucesso. Um clássico da literatura portuguesa e um testemunho da presença de Portugal no Mundo.
Para saber mais sobre as peças, basta consultar o site do Museu de Lamego, em www.museudelamego.gov.pt