A propósito do Boat Show de Valência, que decorreu entre final de Outubro e nos primeiros dias de Novembro, fomos inseridos numa Press Trip organizada por David Goméz, do Turismo de Valência.
Confesso que tenho estado aqui em trabalho ao longo dos últimos 10 anos e estava bastante familiarizada com a sua face mais moderna, nomeadamente a icónica Cidade das Artes e das Ciências. Desta vez foi ocasião para conhecer a sua história mais antiga e o centro da cidade que tem muito para oferecer e para ver. Tivemos sorte com o tempo, verdadeiros dias de Verão nesta altura do ano, com temperaturas a chegar aos 29°.
Texto e fotografia: Luisa Mendes
Valência tem sem dúvida um dos maiores centros históricos da Europa. São mais de 2000 anos de história. No coração da cidade encontramos tesouros arquitetónicos de diferentes culturas e civilizações, desde a sua fundação no ano de 138 AC pelos romanos até à atualidade, passando pelos visigodos e cristãos com elementos exemplares da arte gótica, românica, barroca e modernista. Só Museus são 22.
Em conversa com um dos nossos anfitriões, no que diz respeito a Valência, existe um antes e um depois da Taça América. A projeção dada por um evento desportivo desta magnitude fica para sempre e apesar de já não acontecer aqui.
O aumento do turismo tem sido uma constante nos últimas anos e a descaracterização do centro histórico começa a ser uma realidade. O nosso interlocutor Jesus, do Restaurante La Lola, onde tivemos o prazer de saborear uma refeição puramente Valenciana, faz parte da Associação de Comerciantes da cidade e tem alertado: “para olharmos para Barcelona e não cometermos os mesmos erros. Há que ter a atenção de manter a identidade dos sítios. Este é um problema transversal a todas as grandes cidades turísticas. Retirar dos centros os lugares de fast food ou de artesanato industrial é uma das grandes sendas da Associação de Comerciantes local”.
O centro estava cheio de estrangeiros que procuram a história e gastronomia, conhecer o artesanato e as pessoas que fazem a cidade acontecer.
Sabia que Valência é uma importante polo da Rota da Seda? E o que o seu Tribunal das Águas é a Instituição Jurídica mais antiga da Europa?
Devido a cheias que destruíam ciclicamente o centro da cidade, esta encontra-se a um nível muito baixo, foi necessário desviar um rio. Sim, é verdade, desviar o curso do rio Turia sendo que o leito original é agora um imenso jardim. Há mais de 30 anos que existe este grande pulmão verde da cidade, que vai de este a oeste, com mais de 1 milhão de m² onde se podem praticar todos os desportos, andar de bicicleta , passear…
O que visitámos, o que conhecemos pela primeira vez e porque vale a pena voltar sempre.
La Lonja de la Seda ou Lonja dos Mercadores na Praça do Mercado
Património da Unesco.
Situada frente ao mercado central, este edifico gótico foi o ponto de encontro de mercadores do sec. XV. Valência era então referência industrial do fabrico da seda bem como do comércio marítimo. Este é século de ouro para Valência sendo este o monumento mais emblemático
A sua certificação surge em 1996 por ser uma joia da arquitetura gótica e pela sua relevância comercial à época.
Com 4 espaços visitáveis, a saber: O Salão da Contratação ou Colunário, uma imponente sala com 24 colunas helicoidais, oito delas livres e dezasseis que são os contrafortes que terminam numa abóbada em cruz; o Pavilhão do Consulado ou Consulado do Mar; Sala do do Tribunal do Comércio no andar de baixo e no andar superior temos o Salão Principal ou Câmara do Consulado. Aqui o trabalho em madeira nos tetos é digno de nota. Tudo se desenvolve ao redor do Pátio das Laranjeiras. Imperdível.
Neste centro histórico encontramos o Tribunal das Águas que é também património imaterial da Unesco desde 2009. Influência direta dos Árabes, persiste até hoje esta Instituição Jurídica que controla o bom uso da água para a rega das hortas. Todas as 5ª feiras aqui se reúnem oito representantes das oito levadas que apanham a água do Turia. Ao som das badaladas da Torre Miguelete saem os membros do Tribunal. Posicionam-se na porta do Apóstolos da Catedral de Valência. Ai ouvem as reclamações sobre a partilha da água e que são resolvidas na hora.
À nossa passagem ainda foi possível ver a reunião e a celebração deste acontecimento.
Outro evento que também já tem a certificação de património imaterial pela Unesco são as Fallas. A festa mais internacional de Valência, que desde 2016 está certificada sendo reconhecida como um tradição única, envolve milhares de valencianos que ao longo de todo o ano prepararam a grande festa de Março que recebe a Primavera. São duas semanas de muita animação, carros alegóricos, pirotecnia, música, dança, gastronomia e arte.
Mas o Mercado Central é também digno de visita.
Aí tivemos a oportunidade de provar a célebre bebida valenciana horchata feita com o tubérculo seco chufa da vila de Alboraya, nesta bebida é mergulhada uma fartura típica.
Muito movimentado tem uma arquitetura muito própria.
O edifício é do estilo modernista (1914-1928) sendo dos maiores da Europa com 8000 m² de superfície. Destaque para ao Papagaio no catavento que retrata as más línguas, a agitação e os odores do mercado.
Mas adiante que ainda temos muito para visitar antes do almoço.
A impressionante Catedral de Valência. A sua origem é do século XIII mas integra uma mistura de estilos arquitetónicos que foram sendo acrescentados ao longo dos séculos. Assenta sobre um templo romano e vai até ao barroco. Estes estilos estão bem patentes nas suas três portas: A Porta Principal ou dos erros – estilo Barroco; a Porta dos Apóstolos ao estilo Gótico e a Porta do Palau ao estilo Românico.
E se quiser subir 200 degraus da torre do Campanário tem uma vista esplêndida sobre a cidade
A catedral alberga ainda a herança dos Borgia.
Numa das suas capelas está o cálice que Jesus utilizou na última ceia, uma das maiores, se não a maior relíquia da Igreja Católica.
Passamos pelo Palácio do Marquês das Dos Aúguas impressionante espaço que homenageia a indústria da cerâmica e é considerado o melhor exemplo da arquitetura Barroca em Espanha. Este Palácio é um Museu que alberga a maior coleção nacional de cerâmica, do século VIII até a contemporaneidade com peças de Picasso e Calatrava e com inumeráveis tesouros ligados à Rota da Seda Valenciana.
Nessa manhã foi possível vislumbrar apenas uma pequena parte de todos os tesouros que Valência encerra.
E na rua dos Bordadores junto à Catedral tínhamos encontro marcado no El Colmado de La Lola
Espaço muito típico com capacidade para 30 pessoas. A especialidade são tapas. Aí bebemos uma uma cava, provámos ostras e ouriços do mar e claro as azeitonas valencianas com alho não podiam faltar. Apenas a preparar o estômago para o almoço.
Um pouco mais acima e já na Subida del Toledano, La Lola o verdadeiro restaurante valenciano na música e na decoração. Com uma típica esplanada optámos no entanto por ficar no interior calmo e minimalista.
A comida mediterrânica é referência e pode ser degustada uma refeição de grande qualidade com um preço médio por pessoa de 20 euros.
A entrada foram servidos croquetes de bacalhau, com pinhão pimento verde e vermelho, belo contraste entre o quente e o frio.
E claro uma receita de Arroz com foie de pato e cogumelos muito bom. Não fosse o arroz uma das especialidade do Restaurante e de Valência também.
Para sobremesa um pudim de Orchata (o tal tubérculo tão típico de Valência)
A acompanhar um vinho Valenciano Las Doces 2017
Tratada que nem uma rainha.
Esta é uma cidade que recomendo. Tem voos diretos a partir de Lisboa e está vocacionada para as famílias com crianças.