Fizemos um percurso na Serra da Arrábida com as plantas em mente e tivemos uma sorte imensa com o dia de Abril que escolhemos. Cerca de 5 km com uma paisagem de cortar a respiração, a ligação ao Atlântico, as falésias Lapiás e o céu como limite. No final conversámos com José Cunha da Biotrails, o nosso guia.
Passear (P) – Arrábida é um Destino de observação de plantas?
José Cunha (JC) – Sim, sem dúvida!
No Parque Natural da Arrábida estão inventariadas mais de 1400 espécies de plantas, correspondendo a quase 40% das espécies em Portugal. Esta diversidade é fruto das várias influência de Climas (Mediterrânico, Continental, Atlântico, Macaronésia), bem como da sua posição geográfica e características morfológicas e geológicas.
Na cadeia montanhosa da Arrábida, para além dos seus endemismos, encontramos também limites de distribuição de várias espécies, funcionando como uma fronteira de biodiversidade.
Exemplos disso, das mais comuns, podemos destacar o Thymus zygis, que se encontra maioritariamente a Norte; o Thymus mastichina, que encontra aqui o único reduto litoral; a Phlomis purpurea, que se encontra maioritariamente a Sul; um destaque especial para a Lavandula multifida, que encontra aqui a sua quase exclusiva presença em Portugal, ou para a bela Arabis sadina, endémica de Portugal tendo aqui o seu limite sul.
Mas há outras, raras em Portugal, como e Fagonia cretica ou a Withania frutescens, com estatuto de ameaça em perigo, para citar só duas.
P – Qual tem sido o trabalho desenvolvido pela Bitotrails nesta região e para que mercados.
JC – A Biotrails nasce com o intuído de dar continuidade a um trabalho de sensibilização que vem de trás, mas agora assumidamente direcionado para o turismo de Natureza.
A preocupação com a preservação é tanto maior quanto maior é a nossa consciência da sensibilidade dos ecossistema.
Até agora, a maioria das pessoas que nos tem procurado são portuguesas, principalmente nas nossas atividade regulares de agenda, embora tenhamos também público de outros países, principalmente da europa central, nomeadamente Países Baixos e Alemanha, que têm mostrado grande interesse em conhecer a região através das caminhadas.
P – Quais as grandes vantagens que um visitante tem em fazer um Percurso acompanhado por um Guia Local.
JC – O guia local terá um conhecimento sobre a região que não deve ser desprezado. Principalmente quem visita a região por pouco tempo, dispensar uma boa incursão a pé no Parque Natural da Arrábida é como ir a Roma e não ver o papa. Aqui o guia pode fazer toda a diferença.
P – Quais os principais constrangimentos para uma organização que trabalha nesta região.
JC – Bom, para a Biotrails, que se foca na observação da Natureza, o principal constrangimento é chegar ao público que tenha interesse na observação. A Arrábida, creio eu, atrai mais visitantes pelas suas belas paisagens e praias que pelo interesse na descoberta, a pé, do seu Património Natural e Cultural. E foi esta a razão de termos arrancado com o projeto do Arrábida Walking Festival.
P – Momentos inesquecíveis passados na Arrábida.
JC – Estão essencialmente ligados ao sentimento de descoberta.
Recordo-me da primeira vez que cheguei ao Fojo, ainda vivia em Lisboa, ia a caminhar sozinho de deparei-me com uma espetacular “janela com varanda” sobre o mar, imagem que me ficou bem vincada na memória.
Ou a primeira vez que encontrei a Arabis sadina, por exemplo. Encontrar estas plantas raras, na natureza mais selvagem, são momentos de grande emoção.
Mas há outras quantas experiências que me marcaram muito na Arrábida, com as minhas primeiras incursões na escalada, na espeleologia, na canoagem… É o desafio associado à descoberta e à vivência em plena Natureza que mais me fascina.
P – 5 plantas de eleição que podemos observar.
JC – A endémica do PNA Convolvulus fernandesii , a bela Fritillaria lusitanica, a endémica de Portugal Iberis procumbens, a perfumada Thymus zygis ou a mais exuberante das orquídeas a Orchis papilionace.