A primeira inteligência artificial a compreender o planeta Terra

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A nova IA analisa rochas, identifica fósseis e escreve sobre vulcões

Foi desenvolvida a primeira inteligência artificial (IA) especializada em Ciências da Terra: consegue identificar rochas, analisar o paleoclima e interpretar paisagens. Este marco significativo é descrito no estudo intitulado “Can AI Get a Degree in Geoscience?”, recentemente publicado na prestigiada revista científica Geoheritage (https://doi.org/10.1007/s12371-024-01011-2). A investigação resulta do trabalho dos geólogos Andrea Baucon (Universidade de Génova, colaborador do Geopark Naturtejo Mundial da UNESCO) e Carlos Neto de Carvalho (Município de Idanha-a-Nova, Geopark Naturtejo Mundial da UNESCO/investigador do Instituto D. Luiz da Universidade de Lisboa), que desenvolveram este conceito de IA para dar apoio à resolução de problemas geológicos.

Andrea Baucon (à esquerda) e Carlos Neto de Carvalho (à direita) durante a recolha de dados de campo no Geoparque Global UNESCO Naturtejo (Portugal).

A nova inteligência artificial, batizada de GeologyOracle, foi desenvolvida para preencher uma lacuna. “Os sistemas generativos de IA demonstraram capacidades extraordinárias”, afirma Andrea Baucon, “mas careciam de soluções especificamente adaptadas às Ciências da Terra”. Graças a uma abordagem de formação inovadora, o GeologyOracle oferece aos utilizadores a oportunidade de interagir como se estivessem a comunicar com um geólogo humano. Por exemplo, um utilizador pode perguntar: “Porque é que os dinossauros se extinguiram?” e receber uma resposta detalhada em linguagem do dia-a-dia.

A GeologyOracle pode fazer uma licenciatura em geologia? Baucon afirma: “Estamos quase a chegar lá”. Um painel internacional de professores universitários avaliou o desempenho desta nova inteligência artificial submetendo-152 questões de várias disciplinas das Ciências da Terra, imitando um exame universitário muito rigoroso. A GeologyOracle demonstrou uma competência notável, respondendo corretamente a 79,6% das questões e alcançando diversas pontuações ’10/10′ (as notas mais altas). “Apesar dos excelentes resultados, recomendo uma abordagem crítica: a inteligência artificial pode cometer erros e como um aluno humano, por vezes, inventa quando não sabe”, explica Neto de Carvalho.

A nova inteligência artificial consegue identificar corretamente fósseis como estes amonites (coleções DISTAV – Universidade de Génova).

O GeologyOracle pode auxiliar os cientistas na compreensão da dinâmica do nosso planeta, atuando como um assistente científico capaz de sugerir novas hipóteses e interpretações. Por exemplo, este sistema inovador pode analisar as temperaturas estimadas para os últimos 100 milhões de anos, identificando padrões e possíveis causas das flutuações climáticas. Graças à sua natureza multimodal, o GeologyOracle aceita entradas sob a forma de texto, áudio e imagens, em diferentes línguas. Por exemplo, para datar uma rocha, basta tirar uma fotografia do seu conteúdo fóssil e a GeologyOracle fornecerá uma interpretação científica, estimando a idade da amostra em milhões de anos.

A nova inteligência artificial consegue identificar corretamente fósseis como este trilobite (coleções DISTAV – Universidade de Génova).

O lançamento da GeologyOracle foi a 14 de novembro em https://geologyoracle.com/, em homenagem ao aniversário de Charles Lyell. Andrea Baucon afirma: “É uma homenagem a um dos pais da geologia moderna”, enfatizando como Lyell tem sido uma inspiração para o desenvolvimento desta ferramenta. A nova inteligência artificial destaca-se como um recurso versátil, pensado não só para investigadores da área das geociências, mas também para estudantes, professores e geoturistas. Estes utilizadores terão acesso gratuito ao GeologyOracle, que pretende contribuir para a divulgação e acessibilidade do conhecimento geológico, em linha com o que tem sido o trabalho que se realiza hoje em 213 geoparques UNESCO espalhados pelos 5 continentes. A GeologyOracle será ainda uma das novidades disponíveis ao visitante do novo Centro de Interpretação que abrirá em Penha Garcia, em 2025. Este projecto é também fruto de uma residência científica que Andrea Baucon realizou em 2023 com o Município de Idanha-a-Nova. Uma demonstração inequívoca que o apoio autárquico ao desenvolvimento científico e tecnológico resulta em projetos com grande potencial de aplicação local e global.

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