O rio Tejo e as suas povoações ribeirinhas possuem um elevado potencial turístico devido à sua beleza natural, à inúmera fauna existente e ao património (cultural e edificado).
Fomos visitar as povoações de Salvaterra de Magos e Escaroupim ligadas pelo magnífico rio Tejo. Não sendo um passeio muito longo, ele é muito rico do ponto de vista cultural, paisagístico e de contacto com a Natureza.
Texto e fotografia: Vasco de Melo Gonçalves
O nosso passeio teve o enfoque no rio Tejo como um elemento de ligação entre povoações, que só por si, possui argumentos mais do que suficientes a justificar uma visita.
Nesta incursão pelo rio contámos com a colaboração da empresa Rio a Dentro e com o conhecimento de Rui Domingues, seu proprietário.
Este troço do rio Tejo possui uma grande beleza natural independentemente da época do ano. A grande atração é, sem dúvida, as inúmeras espécies de aves que ocorrem nesta região. Segundo o site Aves de Portugal, “O principal ponto de observação situa-se na margem do rio Tejo, junto ao embarcadouro. A partir daqui é possível, na Primavera, observar a colónia de garças – esta colónia situa-se no mouchão, a cerca de 200 metros da margem do rio.
A espécie mais abundante na colónia é a garça-boieira, havendo aqui várias centenas de casais desta espécie. Outras espécies que habitualmente estão presentes são: a garça-branca-pequena, a garça-real, a garça-noturna (espécie rara como nidificante em Portugal), o papa-ratos e o colhereiro.
Este local tornou-se particularmente conhecido em 2005, quando aqui foi registada a nidificação de íbis-preta. – esse foi o primeiro registo de reprodução no nosso país. Nos anos seguintes a presença desta espécie no local tem sido irregular, mas em 2012 a nidificação foi novamente registada.
Este local é também frequentado por aves de rapina. Entre as mais frequentes, contam-se o milhafre-preto e a águia-calçada”.
Durante o nosso passeio observámos também uma águia-pesqueira. O nosso guia Rui Domingues, para além de ser um bom conversador, tem também um profundo conhecimento da região, sabe dos locais onde ocorrem as espécies e ajuda na sua identificação.
O rio Tejo também é memória dos Avieiros. Uma comunidade de pescadores com características únicas que transformou o rio Tejo com as suas povoações ribeirinhas, com os seus barcos e com uma forma diferente de viver. A partir da segunda metade do Séc. XIX inúmeras famílias oriundas de Vieira de Leiria viram-se obrigadas a deslocarem-se para as margens do Rio Tejo em busca de um sustento à Borda d´água. Este movimento sendo no início apenas sazonal levou gradualmente pelo Séc. XX adentro à fixação de famílias ao longo das margens do Tejo.
Nos dias de hoje, esta cultura está “ameaçada” pela falta de preservação das aldeias. É através das embarcações existentes, de museus e da construção de réplicas das casas típicas que conseguimos ter uma noção do que foi este movimento migratório.
No sentido de preservar as memórias antigas das gentes ligadas ao Tejo realiza-se, todos os anos, um Cruzeiro Religioso do Tejo. O livro Avieiros de Alves Redol e o filme documentário, com o mesmo nome, de Ricardo Costa ajudam a compreender esta realidade.
Salvaterra de Magos
Nestas nossas demandas à descoberta dos portos fluviais do rio Tejo como destinos náuticos fomos visitar a fluvina de Salvaterra de Magos localizada no Cais da Vala (N 39° 01.928′ W 8° 47.624′).
Em plena Vala Real temos um local aprazível onde as embarcações tradicionais (bateiras) e profissionais da pesca se misturam com as de recreio. O acesso e a navegação na zona estão condicionados pelas marés.
“Durante séculos a Vala Real, foi a principal via de comunicação de Salvaterra de Magos. No seu pequeno cais, aportavam os reais bergantins, que partiam do Terreiro do Paço, com a família real.
A corte aclamou Salvaterra de Magos como um local único para as suas estadias, pois nesta vila podiam assistir a grandes espetáculos de ópera e teatro, como participar em pomposas caçadas com falcões.
A Vala Real foi um dos mais importantes entrepostos comerciais do sul do país, daqui embarcavam e chegavam todos os tipos de mercadorias para Lisboa. Com a construção da ponte em Vila Franca de Xira na década de 50, começou a perder o seu fulgor inicial”.
A seco, Salvaterra possui diversos pontos de interesse nomeadamente a Falcoaria Real, a Capela Real, a Igreja Matriz, a Capela da Misericórdia, o Celeiro da Vala Real e o Museu do Rio (merece uma visita mais prolongada).
Na nossa visita ficámos com a sensação de uma certa falta de cuidado na conservação dos edifícios e numa falta de coerência no centro histórico.
Escaroupim
Escaroupim é uma típica aldeia piscatória, formada em meados dos anos 30 por pescadores oriunda da Praia da Vieira (Marinha Grande), que sazonalmente vinham ao Tejo fazer as campanhas de pesca de Inverno, sobretudo o sável, procurando no Tejo rico em pescado, o sustento das suas numerosas famílias, regressando à Praia da Vieira no Verão. Muitos destes pescadores foram ficando pelas margens do Tejo, deixando de ir à sua Praia da Vieira, e assim formaram pequenas povoações piscatórias aos longo do rio. Nestas povoações as habitações são feitas em madeira, pintadas de cores vivas e assentes em estacaria, de modo a estarem protegidas das frequentes cheias do rio.
Hoje, em dia, Escaroupim é muito procurada pelos turistas devido à sua excelente localização. O rio Tejo, a povoação de Valada mesmo em frente, o cais palafítico, as aves e o magnífico restaurante tornam este local irresistível!
A Câmara Municipal de Salvaterra de Magos criou um museu – Casa Típica Avieira – cuja origem resulta das recolhas efetuadas pela autarquia junto da população local, com o intuito de preservar a memória coletiva destes pescadores que um dia deixaram Vieira de Leira e se fixaram nas margens do Rio Tejo.
A Casa Típica Aviera é de pequenas dimensões, pintada com cores vivas, assente em pilares devido às cheias do Tejo, o acesso é feito por umas escadas, no interior destacam-se três espaços: a cozinha onde o elemento que mais se destaca é a lareira ladeada por tijolos e cheia com terra batida, a mesa das refeições e várias prateleiras completam esta divisão, a sala é a outra divisão onde estão dois baús para guardar roupa, neste espaço dois manequins envergam os trajes típicos dos avieiros, a última divisão são os dois quartos de pequenas dimensões com camas em ferro, por cima dos quartos uma última divisão que serve de sótão para guardarem os materiais relacionados com a pesca.
Informações úteis
Cultura Avieira
http://www.e-atlasavieiro.org/
Aves de Portugal
http://avesdeportugal.info/
Rio a Dentro
http://www.rio-a-dentro.pt/
Edifício do Cais da Vala / Museu do Rio
Av. Dr. José Luís Brito Seabra, Salvaterra de Magos
Horário: Segunda a Sexta – 09h00/12h30m e das 13h30/18h00