Para a nossa visita a este espaço de culto contámos com a preciosa ajuda da nossa anfitriã Teresa Serra Vasco, denominada a Mãe da Sinagoga de Tomar. Esta designação faz todo o sentido porque é graças a ela e ao seu marido, entretanto falecido, que este espaço se mantém vivo e que todos os anos recebe milhares de visitantes de todo o mundo. Teresa Vasco, de forma voluntária, toma conta do espaço há mais de 30 anos e aguarda com alguma expectativa o encerramento temporário da Sinagoga para que sejam feitas obras de restauro.
Só para termos uma ideia este espaço de paredes brancas muito simples, recebeu em 2016, 58 191 visitantes que passam a palavra e que aqui se dirigem a este local de culto que tratam com muito respeito.
Esta Sinagoga é o Templo Hebraico mais antigo de Portugal e o que se encontra ainda em razoável estado de preservação. Construida entre 1430 e 1460 infelizmente foi usada durante pouco mais de 30 anos como local de culto que era também escola, assembleia e tribunal da comunidade judaica. Tudo termina quando D. Manuel em 1496 e por imposição da sua noiva castelhana D. Isabel, mandou publicar um édito que dava ao Judeus um prazo até Outubro de 1497 para se converterem ao Cristianismo ou deixarem o país.
Foi com estas políticas de intolerância que nasceram os Marranos muitos cristãos-novos que apesar de serem batizados continuavam secretamente a praticar a religião judaica.
Ficou assim vaga a Sinagoga de Tomar que depois dessa data foi prisão até 1542. Salvou-se de ser destruída tal como outros locais à época porque deram-lhe logo utilidade.
Existem documentos e suspeita-se que já no século XIX até terá servido de Ermida em que inclusive se celebravam casamentos o que é aos olhos da religião judaica é uma autêntica profanação
Em 1885 a Sinagoga era uma simples casa térrea e servia de palheiro. Em 1920 e aquando da visita de estudo do Coronel Garcez Teixeira e um grupo de Arqueólogos portugueses o pequeno espaço servia de armazém e adega.
Em 1921, foi classificado como monumento nacional, em parte graças aos esforços de Luís Vasco, que provem de uma das duas famílias judias que ainda viviam em Tomar.
Dois anos mais tarde o investigador hebraísta Samuel Schwarz compra o edifico da Sinagoga com o objetivo de o preservar do total abandono e mutilação procedendo, ás suas custas, a uma primeira obra de limpeza e desaterro.
A partir de 1933 a Comissão de Turismo local procurou adquirir o edifício sem sucesso por falta de verbas mas o seu proprietário acabou por doar o mesmo ao Estado Português a 29 de Março de 1939 com a condição expressa de ali ser instalado um Museu Luso-Hebraico.
A criação foi homologada por despacho a 27 de Julho de 1939 e iniciou-se o estudo para a instalação do museu histórico representativo das atividades culturais dos velhos Judeus Portugueses . Atualmente o espaço conta com a preciosa ajuda de muitos amigos em todo.
Este simples e pequeno edifício, de forma quadrangular e com abóbadas suportadas por quatro colunas – representando as Matriarcas: Sara, Rebeca, Léa e Raquel, que por sua vez suportam as 12 mísulas representando as tribos de Israel, foi restaurado para recuperar a sua aparência do século XV. O seu nome deve-se ao matemático e astrólogo judaico que ajudou Vasco da Gama a planear as suas viagens.
No seu interior, no Museu Luso-Hebraico Abraão Zacuto várias pedras gravadas com inscrições em Hebraico que datam dos séculos XIII e XIX, bem como um bloco de calcário rosa da grande sinagoga em Lisboa de 1307. As suas paredes são adornadas com doações e contribuições de visitantes judeus internacionais.
O sistema acústico no interior é bastante interessante constituído por 4 bilhas de barros invertidas embutidas nas paredes e que melhoram significativamente a acústica da Sinagoga.
Há ainda objetos relacionados com a Cultura Judaica, alfaias religiosas, lembranças de visitantes e um fundo documental.
*O patrono do Museu, Abraão Ben Samuel Zacuto
(1450-1515), natural de Salamanca, foi astrónomo, matemático, médico e rabi. A sua origem judaica obrigou-o a refugiar-se em Portugal, em 1492, onde o rei D. João II o colocou ao seu serviço. Foi autor das Tábuas Astronómicas, precioso instrumento para o empreendimento das Descobertas. Também D. Manuel I o manteve ao serviço de Portugal até à expulsão dos Judeus (1496).
Duas vezes ostracizado, veio a falecer na Turquia, após ter passado por Tunes, onde escrevera uma História do Povo Judeu.
Morada Sinagoga
Rua Dr. Joaquim Jacinto, nº 73 • 2300-577 Tomar
Horário
De outubro a abril, de terça a domingo, das 10:00 às 13:00, e das 14:00 às 17:00.
De maio a setembro, de terça a domingo, das 10:00 às 13:00 e das 15:00 às 19:00.
Encerra aos feriados, domingo de Páscoa, 25 de dezembro e 1 de janeiro.
1 comentário
Muito precioso. Se algum dia for a Portugal, desejo visitar tal antigo templo de Culto a D’us.