A preparação para o espaço significa entender a adaptação humana aos extremos. Como lidar com a vida nos lugares mais frios, mais escuros e mais remotos da Terra? Como podemos reduzir os efeitos nocivos do espaço no corpo humano?
Os investigadores europeus têm agora a oportunidade única de propor experiências que abordem as pressões e tensões que as pessoas sofrem em condições semelhantes às missões de voo espacial de longa duração.
A ESA oferece-se para conduzir investigações em duas áreas únicas, na Terra, para se preparar para a vida no espaço: estudos de isolamento e confinamento e gravidade artificial.
Concordia e o fator humano
Na estação de investigação Concordia, na Antártida, a equipa sabe que, aconteça o que acontecer, a ajuda nunca virá durante os meses de inverno. Durante quatro meses, o Sol não se eleva acima do horizonte e as temperaturas caem abaixo de -70°C.
Todos os anos, geólogos, astrónomos e cientistas climáticos conduzem pesquisas nesta base, que mais parece saída da ficção científica. Viver em isolamento extremo pode levar a conflitos, privação social e queda no desempenho.
O atual Anúncio de Oportunidade enfoca a adaptação humana do ponto de vista psicológico, médico e fisiológico. Os seus resultados contribuirão para a seleção das melhores equipas e a integração de fatores humanos nas operações da missão.
Às voltas na sua cama?
No espaço, os astronautas sofrem de perda óssea, enfraquecimento muscular e desconexão cardiovascular. Adicionar a gravidade artificial à equação pode ser a solução mais eficaz para um corpo mais saudável durante missões espaciais de longa duração.
Existem ferramentas para criar artificialmente o efeito da gravidade, nomeadamente sujeitar indivíduos a movimentos giratórios em centrífugas habilmente projetadas. A gravidade artificial é considerada uma contramedida integrada porque aborda todos os sistemas de órgãos humanos ao mesmo tempo.
“A vantagem da gravidade artificial é que tem o potencial promissor de reduzir a maioria dos efeitos negativos da ausência de gravidade, em todo o corpo humano, de uma só vez”, explica Jennifer Ngo-Anh, que conduz a pesquisa de fatores humanos da ESA.
Duas questões principais permanecem abertas para a comunidade científica: por quanto tempo e com que frequência é necessário manter a centrífuga. O objetivo é encontrar a combinação certa de gravidade artificial, suplementos alimentares e exercício físico.
As ideias mais promissoras serão levadas em consideração nos próximos estudos de repouso patrocinados pela ESA, uma maneira de ver como o corpo humano se adapta à ausência de gravidade. Os participantes passam meses na cama enquanto os médicos tiram amostras de sangue regulares e realizam testes contínuos, para traçar a forma como o seu corpo reage a um estilo de vida sedentário súbito.
Os cientistas estão convidados a apresentar as suas propostas até fevereiro de 2018. Fonte: ESA